Por Ivandro Soares Monteiro, Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta doutorado
Dada a complexidade da vida moderna, onde as exigências diárias se tornam intermináveis e as pressões sociais frequentemente esmagadoras pelas recorrentes comparações desnecessárias que fazemos, é fácil subestimar o valor das relações interpessoais e o quanto elas contam para perder ou ter saúde mental.
Sejamos claros, não por opinião, mas pela evidência científica recorrente: os laços de amizade desempenham um papel crucial na promoção da saúde mental e emocional, desde tenra idade até à morte, aumentando o encurtando a nossa esperança de vida.
À medida que navegamos pelas turbulentas águas da vida, os amigos que podemos ter, podem tornar-se âncoras essenciais, oferecendo apoio, compreensão e perspectivas reconfortantes para lidar com as transições, lutos, conflitos ou outros momentos de sofrimento inevitáveis que a vida dá. Saber viver implica aceitar o sofrimento do processo. Os estudos científicos demonstram, de forma robusta e recorrente, os benefícios reais de mantermos relações sociais significativas. Entre família e amigos, e não apenas família, pois na melhor das intenções, é na família que mais nos julgam e criticam, é nos amigos (bem escolhidos) com quem mais nos divertimos e nos expandimos.
Uma meta-análise publicada no Journal of Clinical Psychology em 2020, Holt-Lunstad e os seus colegas, concluíram que o apoio social está significativamente associado a melhores resultados de saúde mental, incluindo menores níveis de depressão e ansiedade. Além disso, um estudo longitudinal de 2019 conduzido pela Universidade de Harvard por Lara e os seus colegas, descobriu que pessoas com fortes laços sociais têm uma probabilidade significativamente menor de desenvolver problemas de memória relacionados à idade.
A solidão, por outro lado, tem sido identificada como um fator de risco significativo para uma série de problemas de saúde mental, incluindo depressão, ansiedade e stress crónico, o que acelera o envelhecimento. Um estudo publicado no American Journal of Public Health em 2018 por Rico-Uribe e os seus colegas, encontrou uma associação entre solidão e aumento do risco de morte prematura, destacando, ainda mais, a importância das conexões sociais para o bem-estar geral, como factor protector e preditor. Cultivar relacionamentos significativos pode fornecer um antídoto poderoso contra esses efeitos adversos.
Os amigos desempenham múltiplos papéis em nossa vida emocional. Eles oferecem-nos um ombro para chorar nos momentos difíceis, incentivam-nos a perseguir os nossos sonhos mais loucos (ajudando-nos a “pôr os pés no chão” dizendo o que precisamos ouvir) e partilham risos e experiências inesquecíveis em momentos de alegria. Além disso, as interações sociais positivas têm o poder de reduzir os níveis de stress e promover um sentido de pertença, onde encontramos a nossa rede de suporte, dentro da estrutura social que muitos têm mas que não usam nem recorrem.
Portanto, num mundo onde a conectividade digital tem vindo a atropela a interação humana cara a cara desde tenra idade, principalmente desde 2010 com as Apple Stores e Smartphones, é fundamental lembrar o valor intrínseco das amizades genuínas. Enviar uma mensagem rápida, fazer uma ligação ou reservar um tempo para um encontro pessoal pode parecer simples, mas o impacto emocional, com cinco orgãos sensoriais, acaba por ser muito mais profundo. Nunca subestime o poder de um momento compartilhado com um amigo ou amiga queridos, e não o confunda com mensagens onde considera ler conversas como as ter de viva voz frente a frente.
“A vida é o que fazemos com o que nos acontece”, cuja evidência científica e filosófica está bem sustentada no livro “Mudamos pelo que fazemos” (editora Glaciar), pelo que importa empoderar a consciência que cada um de nós tem o poder de enriquecer as suas próprias vidas e as vidas dos outros, cultivando ligações interpessoais significativas. A mudança começa em nós e não nos outros. Por muitas tempestades que a vida nos traga, lembremo-nos que nem sempre estamos sozinhos, desde que saibamos ir escolhendo quem encaixa connosco, alargando novos contextos e pessoas. Assim, tal como gostamos de ajudar quem é amigo, também precisamos escolher pedir ajuda como capacidade adicional e resiliência. A rede de apoio social e pertença constrói-se ao longo do tempo e é uma fonte valiosa de força, conforto e resiliência.
Então hoje, e para concluir, faço um apelo a si leitor com este wake-up call porque a vida vai passando enquanto pensa nela): pegue o telefone, envie uma mensagem ou faça planos para se encontrar com um amigo ou amiga que valha a pena. Porque num mundo cheio de incertezas, e com 8 milhões de pessoas, há sempre alguém que encaixa connosco e são esses momentos de conexão que verdadeiramente importam. E lembre-se, há sempre pessoas que valem a pena, porque o mundo é feito de abundância e não escassez. Se já encontrou, aumente a frequência de estar com quem vale a pena. Viaje e saboreie os momentos. Se ainda não encontrou, não limite o seu futuro ao que já viveu. Há muito mais contextos e pessoas e vidas para conhecer, para lhe acrescentar valor. Cuide de si, dando tempo, frequência e intensidade a quem o/a merece e acrescenta valor.
Ivandro Soares Monteiro
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