Conheci-a no dia do concerto dos 178 anos de vida da Associação Mutualista Montepio. No dia 4 de outubro. Rodrigo Leão era o convidado da noite e foi ele que, por sua vez, convidou a voz que mais me encantou. Desde que pisou o palco. Desde que a vi embalar o corpo aos sons do primeiro tema que interpretou. Era uma menina no corpo de uma Mulher. Selma Uamusse.
Foi a primeira vez que a ouvi. E quis a vida que a conhecesse nos camarins do Coliseu, quando fui felicitar Rodrigo Leão pelos seus 25 anos de carreira, depois de um concerto mágico e memorável como só podia ser. Um mestre da música que há anos me inspira e que sabe bem encontrar novos talentos para o acompanharem em palco.
Cruzei-me com ela no corredor. Estava a petiscar umas iguarias, encostada à parede. Descontraída. Com ela mesma e já com vestes de ir para casa, de cara lavada. Sem preconceitos. Simples, como me pareceu ser desde o primeiro momento. Dirigi-me a ela e saiu-me do coração um: “Minha querida Selma, de onde saíste tu, miúda? Que vozeirão!” Ela, humilde, meio sem jeito, agradeceu e respondeu orgulhosa: “De Moçambique.” Encantei-me.
No final, dei-lhe o meu contacto e disse-lhe que já estava a segui-la no Instagram. Prometi-lhe que iria contactá-la em breve para a conhecer melhor. E cá estamos nós numa curta conversa. Um dia, em breve, voltaremos a encontrar-nos e dessa vez tomamos um café e gravamos a conversa em vídeo. Eu gosto de partilhar a alma destes encontros através dos olhos dos meus convidados… Para já, ficam as três primeiras perguntas a que ela respondeu. Por escrito mas com alma:
Quem é Selma Uamusse?
Tenho dificuldade em dizer que sou uma mulher, mas sei bem que já não sou menina há algum tempo. Tenho 36 anos, sou mãe de duas adoráveis meninas, sou cantora, nascida em Moçambique mas a viver em Portugal desde 1988. Apesar disso, mantenho unicamente a nacionalidade moçambicana. Formei-me no Instituto Superior Técnico, em Engenharia do Território, hoje em dia um ramo de Engenharia Civil ligado ao ordenamento do território, urbanismo e ambiente. Deixei de exercer em 2010 e desde 1999 que canto, tendo em 2010 assumido a música como a minha principal atividade profissional. Através da música gospel converti-me, sou cristã protestante evangélica e considero-me uma cantora ativista do amor, da fé e da esperança. Em 2012, quando fui mãe pela segunda vez, decidi seguir uma carreira a solo e, por isso, apesar de trabalhar com vários projetos, a minha prioridade é o meu projeto a solo, Selma Uamusse.
Há quanto tempo está em Portugal?
Vivo em Portugal desde 1988, mas os meus pais regressaram a Moçambique em 1997, pelo que aos 14 anos passei a viver sozinha e longe da minha família moçambicana.
Que sonhos traz na bagagem?
Sou uma grande sonhadora e sonho mudar o mundo, mas o meu mundo começa em mim, na minha casa, no meu prédio, na minha vizinhança, no meu bairro, na minha cidade. Acredito que a união é fundamental para concretizarmos os nossos sonhos e os dos outros também, que muitas vezes se tornam os nossos. Sonho, através da minha música, dar a conhecer a cultura e o património e o nome de Moçambique, e espalhar uma mensagem de esperança e de transformação da sociedade através do amor.
Depois de ler estas respostas da Selma, pensei para comigo: Não podia ser melhor. Não podia ter mais a ver. Não podia deixar de estar aqui, neste bloco de primeiras histórias do blog. A vida é mágica…
Vamos juntar os nossos sonhos e ajudar a transformar a sociedade através do amor. Com pequenos gestos. Cada um de nós.
Sim. Apaixonam-me as pessoas. E sim, também me apaixona o Rodrigo Leão.
Fotografia: Gonçalo F. Santos