Chamam-na Pérola do Adriático, por influência do poeta inglês Lord Byron, mas Dubrovnik é não somente isso mesmo, como também – diria eu, sem poesia – um dos lugares mais bonitos do mundo. Do mundo que eu conheço, que já é algum, seguramente.
Fiquei rendida aos encantos da Croácia logo na primeira visita. E não foi pelas belezas naturais que hoje conheço fora de Zagreb, mas sim pela simplicidade das suas gentes, pelo encanto das suas esplanadas (que no inverno têm tanta vida como no verão), pelos museus (em particular o das Relações Terminadas, que visitei em 2012) e pela história do país que, nos anos 90, já eu me via como uma mulher crescida, ainda sentia as dores da guerra pela independência.
Como a vida é engraçada… Continua a querer que eu regresse aos países por onde andei em gravações com a minha equipa em 2013. A produção da série Travel Brands, que assinalou os 10 anos de Imagens de Marca, na SIC Notícias, levou-nos a analisar 10 marcas-nação e Marrocos, Tailândia e Croácia foram alguns deles. Por curiosidade, a Croácia tinha sido o único a que não tinha ido com a equipa, por estar impedida de voar. No regresso do Brasil, a gripe atrapalhou a descida para Lisboa e deixou mossas num tímpano que me levaram a ficar em terra durante 3 meses. Nessa altura acabámos por ter de gravar pivots na Serra da Arrábida. Era o cenário que mais se aproximava das paisagens de Dubrovnik, recordo-me de a produção o referir, e lá fomos para Setúbal, em busca do cenário perfeito. A emissão ainda hoje se vê muito bem. Foi, para mim, um dos episódios mais bonitos e com informação mais interessante. Até porque o país acabara de entrar na altura para a União Europeia a 28. Faz precisamente agora 6 anos.Aconselho vivamente que veja ou reveja a emissão que continua a ser relevante.
O meu regresso foi em passeio. E se já tinha ficado encantada com a primeira visita à capital, desta vez quase me imaginei a mudar de vida. A grande responsável chama-se Dubrovnik. A tal pérola do Adriático que serviu de inspiração ao romântico poeta. A mesma cidade que serviu de cenário às gravações da Guerra dos Tronos. A terceira cidade mais importante da Croácia e a que, em 1991, se viu atacada pelos sérvios que a tomaram de assalto ao amanhecer deixando rastos de destruição, que ainda hoje são visíveis em alguns edifícios.
Dubrovnik. A cidade que nos faz viajar aos tempos romanos num simples passeio pelas ruas e ruelas habitadas ou pela muralha que envolve e defende a cidade velha, ergueu-se e venceu os maus momentos tornando-se hoje num lugar imperdível. Chegar ali, de barco, ao pôr de sol, como cheguei nesta minha primeira visita, foi e será memorável. Os reflexos de luz nas suas águas translúcidas são indescritíveis e os jogos de sombras majestosos. Cruzam-se as imagens com os sons. Os sons das gentes. Da música. Da natureza… Das gentes locais e dos turistas de tantas nacionalidades; das músicas que entoam nos becos e das brincadeiras das crianças; das andorinhas que sobrevoam os fortes e das gaivotas que não perdem o regressar de um barco. Cruzam-se as imagens e os sons que nos deixam uma marca difícil de apagar. De tão bela que é.
5 dias de pausa souberam a pouco para este regresso à Croácia. Teria lá ficado mais 5, ou mais 15 se pudesse, mas já deu para ficar com o bichinho de mais um destino a repetir e a explorar com tempo. Para ir devagar…
O meu roteiro de viagem
Fui de Lisboa a Barcelona e de Barcelona a Split. Só depois de conhecer a segunda mais importante cidade croata, viajei de carro por entre montanhas mágicas e vales encantados rumo a Dubrovnik. Saí da Europa e voltei a entrar poucos minutos depois porque ainda é assim, e será até a nova ponte convidar a deixar de passar pela Bósnia, o que se prevê em 2022. Alugar um carro é barato, cerca de 100 euros para 5 dias, e dá uma enorme ajuda e liberdade nas deslocações entre cidades.
Para dar descanso ao carro e à condução, optem por uns passeios de barco pelas ilhas. São muitas para conhecer e cada uma mais bonita do que a outra. Levem óculos para mergulhar, sapatos de borracha para proteger os pés nas praias sem areia, protetor solar para se deitarem ao sol durante cada viagem e máquina fotográfica ou smart phone com capacidade máxima. Cada canto e recanto são dignos de registo e o difícil é não fotografar…
As Eliphite Islands conquistaram-me, a mim e ao meu marido, que num único dia (e em dia de mar agitado!) se deram a conhecer em todo o seu esplendor. Já lá iremos…para já, vamos a Split.
O que fazer em Split
Split foi o nosso ponto de partida e de chegada. Como a viagem era curta decidimos trocar o Fomo (o medo de perder alguma coisa que nos leva a querer ir a tudo) pelo Foco (concentrar-nos apenas numa parte) e em Split optámos por passear e aproveitar, devagar, o que nos apeteceu a cada momento.
A zona antiga da cidade é imperdível. Nós começámos por escolher um bom restaurante para jantar, depois de uns mergulhos de estreia no mar Adriático e, por intuição, fomos parar ao ZOI. Grande escolha! Em plena Riva, paredes a meias com o Palácio do Imperador, lá está um spot imperdível para quem gosta de apreciar um bom vinho ao final da tarde. Foi isso que fizemos. Escolhemos uma casta local e deixámo-nos ir pelos encantos das conversas, das temperaturas amenas, dos sabores de cada prato e pelos tons do por de sol que nos enche a alma!
O restaurante é bonito, tem espaços ao ar livre que convidam a ficar com tempo, uma boa oferta de sabores de garfo e de copo e um staff super simpático. Os trajes são, aliás, dignos de registo porque nos levam a recordar os fatos dos romanos e das batalhas históricas, o que não pode ser mais enquadrado. Adorei e recomendo.
Em Split, aconselho a passear sem tempo. Sem hora. Deixar-se levar pela vida da cidade. Nós aproveitámos cada minuto para sentir a vida local, para apreciar os navios ancorados nas marinas que me levavam a imaginar tantas viagens de sonho, por entre as mais de 1800 ilhas que tem o país. E é bom viajar também com os pensamentos…pode ser que chamem pela próxima viagem!
Na realidade, na minha mão estava muitas vezes um gelado artesanal de lima e chocolate – que me fez esquecer a dieta – e no horizonte as ruas cheias de turistas que se deixavam estar, noite dentro, a aproveitar os concertos espontâneos de violino de quem parava para tocar em cada esquina, ou dos sons mais profissionais de quem faz disso a sua vida.
Split é bom para estar. É bom de explorar a sua zona mais antiga, o Palácio do Imperador, as ruínas e as histórias que nos levam a conhecer sempre um pouco mais de nós. Viajar é isso mesmo. É descobrir. É perceber melhor o mundo.
Nas viagens há, no entanto, dois pormenores que para mim são importantes: o descanso e a localização. E como nós estávamos com vontade de nos estrearmos no mar Adriático, optámos por ficar num hotel bem perto da praia. Cham-se Briig, e não, não é promoção…é mesmo um lugar bom para quem gosta de praia de areia (atenção que aqui nunca é branca) ou prefere uns mergulhos diretos das espreguiçadeiras. O Briig tem menos de 1 mês, cheira ainda a novo, e está a 2 passos da praia de Bačvice. Praia que, lendo as críticas na internet, ou se ama ou se odeia, pela quantidade de gente e de vida que ela tem.
É uma experiência que vale a pena mais que não seja para sentir local e viver local. Eu preferi um lugar mais tranquilo. Sem história. Apenas para estar, para mergulhar, para repousar. Para passar um dia devagar. Ao sol, com o mar aos meus pés, pronto para me receber a cada instante que me apetecia recordar o seu azul…
O que visitar em Dubrovnik
Dubrovnik é um dos destinos turísticos mais concorridos do Mar Adriático, um porto marítimo e a cidade mais importante do condado da Croácia-Neratva.
Com mais de 43 mil habitantes na cidade e de 30400 na zona urbana, Dubrovnik ganha vida com os turistas que a visitam o ano inteiro. Tive sorte de ir no limite da excessiva procura e que pode tornar a experiência bem menos positiva. Ao que sei, Julho e Agosto são meses a evitar devido aos inúmeros navios-cruzeiro que a visitam e levam milhares de pessoas para as suas ruas históricas apertadas.
Aqui é imperdível a visita às igrejas, nem que seja a apenas uma. Por lá selam-se relações (as mesmas que não queremos que um dia levem as suas histórias para o Museu de Zagreb) ou fazem-se viagens mais espirituais. Se recebem crentes ou simples curiosos. Nós gostamos de entrar nas igrejas das cidades que não conhecemos. Ficamos sempre por ali uns minutos. A sentir o silêncio, apenas. A meio da viagem sabe bem um reencontro interior.
O que mais gostei desta visita ao centro histórico foi mesmo o entrar nas ruelas de roupa estendida, de me cruzar com os sorrisos que nos recebem enquanto viajantes. De deambular por ali. O meu marido teve coragem de fazer todo o percurso da muralha. 45 minutos que o fizeram perder as calorias de mais um geladinho imperdível logo à chegada à cidade. E as imagens que me trouxe são de encantar…
Não trouxe comigo as fotografias de uma das casas que ardeu em 1991, aquando do ataque sérvio à cidade por ter terminado a bateria momentos antes. Mas se está a pensar visitar não deixe de ler a história que está exposta no exterior. É fácil identificar a casa, bem no centro da zona antiga, e vale a pena para não esquecermos que a paz que hoje existe não chega a ter 25 anos. Dá muito que pensar.
Levem calçado confortável e subam a uma das muitas encostas que permitem apreciar o por de sol. Nós não fomos ao teleférico mas é um dos spots recomendados. A nossa ida a Dubrovnik, que conhecemos em dois dias, foi feita de barco do hotel Sheraton para o centro e posso garantir que é super gira a viagem.
Depois, por lá, difícil é escolher onde parar para jantar, de tantas que são as esplanadas e os locais convidativos. Nós deixámo-nos ir e optámos por uma refeição italiana que teimava a espicaçar as nossas papilas gustativas. A italian food é por lá muito apreciada e, a bem dizer, também muito boa.
As ilhas que não pode perder
A não perder é mesmo um passeio de barco pelas Elephite Islands. Nós optámos por um dia completo, que deu para conhecer 3 ilhas diferentes: Koločep, Sipan e Lopud, a ilha que não tem carros e que somente se pode percorrer de bicicleta ou de carrinho de golf – e que diz ter uma das 10 melhores praias do mundo, segundo o The Guardian. Eu não posso dizer o mesmo…confesso que não gostei. Nada mesmo…
Tem, no entanto, do lado dos restaurantes, das praias mais pequenas e do porto de chegada, um dos azuis mais lindos em que já mergulhei. E que tão depressa não irei esquecer. Mais uma vez, umas esplanadas bastante convidativas e um comércio local difícil de resistir, em particular com peças feitas de conchas e corda.
1185 ilhas para explorar. Cada uma mais bonita do que outra. 1185 ilhas mais um continente que faz fronteira com tantos outros países e que de uma assentada só nos permite conhecer vários outros locais. Desta vez passei apenas pela Bósnia e Herzgovina, mas da primeira vez que fui a Zagreb dei um pulo a Liubliana, na Eslovénia, numa viagem de comboio de que nunca me esqueci também.
Há algo de mágico no reino da Croácia. Algo que seguramente me vai fazer voltar e que vos convido a apreciar nas galerias de fotos que trouxe para partilhar. Aproveitem porque a Veneza da Croácia, como chamavam a Dubrovnik na época do comércio marítimo e que hoje é património mundial da Unesco, a magia de Split e as águas transparentes das ilhas são qualquer coisa de especial. Claramente um país a voltar.