Cristina Amaro
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O assombro da memória

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As pessoas

O assombro da memória

O assombro da memória

Por José Rodrigues, Empresário e Escritor

Costumo refletir imenso acerca da importância da memória na nossa vida.

Na verdade, se uma parte substancial dos nossos pensamentos diários diz respeito às nossas expectativas futuras, é certo que uma parte significativa recupera acontecimentos de um passado recente ou memórias mais distantes no tempo. Nós somos as nossas memórias, somos a impressão que os acontecimentos nos causaram, o que aprendemos, aquilo de que temos saudades e recordamos com gosto, mas somos também as memórias mais difíceis, que ainda hoje nos causam dor. Nunca, porém, nos recordamos sozinhos. Os outros, a família e os amigos, os conhecidos, e mesmo os desconhecidos que alguma vez trocaram um gesto e uma palavra, fazem parte dessas memórias.

Hoje, quando a vida ainda brilha esplendorosamente, a memória vai sendo enriquecida todos os dias, com novas experiências de vida. Haverá um dia, quando as forças faltarem, em que a memória será quase tudo o que temos para tornar o nosso quotidiano mais suave.

E a memória faz-se hoje. Temos de cuidar dela hoje. Com efeito, os afetos que cultivamos hoje serão aqueles de que nos lembraremos amanhã.

Acredito que, quase sem darmos conta, as nossas memórias vão sendo construídas de forma contínua. Não surgem do nada, mas sim da forma como comprometemos a nossa vida com cada hora dos nossos dias, cuidadosamente, enquanto tecemos teias de emoções e afetos capazes de preencher a vida, que nem sempre é fácil e nem sempre é doce. Esta construção, revelada em cada um dos nossos momentos, nunca se acaba, pelo menos enquanto viverem as pessoas que tão perto chegam ao nosso coração.

Todos seremos construtores de memórias e afetos, sobretudo de memórias dos afetos.

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