Cristina Amaro
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Como cultivar a coragem num mundo em constante mudança

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A vida

Como cultivar a coragem num mundo em constante mudança

Como cultivar coragem num mundo em constante mudança

Por Cristina Amaro

Vivemos tempos de incerteza. Tudo parece acontecer demasiado depressa — as mudanças tecnológicas, os modelos de trabalho, as relações, as expectativas. O que hoje é válido amanhã pode já não servir. E nesse turbilhão constante, muitas vezes, perdemo-nos de nós próprios. E é aí que entra a coragem. Não como um escudo. Mas como aquilo que nos faz avançar mesmo quando o coração bate mais depressa e as certezas se desfazem à nossa frente.

A coragem, tal como a entendo, não é uma qualidade inata. É uma construção diária. Um exercício de presença, de escuta e de consciência. Não é barulhenta. Não grita, não impõe. É silenciosa, serena, mas firme. E, sobretudo, é humana.

Recordo momentos da minha vida em que a coragem não veio com certezas, mas com perguntas – “Vale a pena continuar?”; “Estou no caminho certo?”; “E se falhar?”. Nessas alturas, não foi o medo que me impediu de avançar. Foi o medo deter medo que quase me paralisou. Até perceber que o medo também faz parte do processo. Ele avisa, alerta, prepara. E a coragem não o elimina. Caminha com ele.

Num mundo em constante mudança, a coragem assume novas formas. Pode ser a ousadia de mudar de rumo, o desabafo honesto numa conversa difícil, ou a decisão de fazer uma pausa quando tudo nos empurra para continuar. Às vezes, é simplesmente não desistir de nós mesmos.

Mas como cultivá-la?

– Criando momentos para nos ouvirmos
A vida acelera, exige, empurra. E, sem nos apercebermos, respondemos em piloto automático. Mas a coragem não nasce no ruído. Nasce no silêncio.
Criar pausas intencionais é um ato de presença. Criar um espaço para ouvir não só a razão, mas também a intuição. Quando nos ouvimos com atenção nasce a clareza. E com a clareza surge a confiança de seguir em frente.

– Aceitando a nossa humanidade
Aprendemos a valorizar a força constante, a invulnerabilidade, a resiliência implacável. Mas a verdadeira coragem mora noutro lugar: na aceitação de que somos imperfeitos, humanos, inacabados.
Cair, errar, hesitar: tudo isto faz parte do caminho. Mostrar-nos inteiros, com luzes e sombras, não nos enfraquece. Pelo contrário: pode ser o gesto mais libertador e corajoso que fazemos por nós mesmos.

– Nutrindo o amor-próprio
É impossível sermos corajosos sem amor por quem somos. Não se trata de ego. Trata-se de valor. De reconhecer a nossa dignidade mesmo quando estamos “partidos”. O amor-próprio é o solo fértil onde a coragem floresce. Sem ele qualquer desafio se torna numa ameaça, mas com ele pode tornar-se numa oportunidade de transformação.

O amanhã continua a ser uma página em branco. Cheio de incógnitas, sim, mas também de possibilidades. E a coragem, que se cultiva devagar, será sempre a nossa melhor bússola. Porque quando a cultivamos dentro, o mundo lá fora deixa de parecer tão incontrolável.

A coragem não se ensina. Inspira-se. E começa, sempre, dentro de cada um de nós.

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