Por Cristina Amaro
Durante muito tempo, confundimos luxo com brilho. Com o que se vê, com o que se exibe. Hoje, o verdadeiro luxo ganhou outra forma — mais discreta, mais sentida. Não se mede por etiquetas nem por preços, mas sim em momentos que nos devolvem a nós próprios, em pausas que nos permitem respirar, em experiências que nos fazem sentir inteiros.
Num mundo saturado de estímulos e sons que nos fazem dispersar, percebemos que o silêncio passou a ser um bem raro e, por isso mesmo, precioso. E é nesse silêncio que nos reencontramos, que ouvimos os nossos pensamentos mais profundos e os nossos sentimentos mais autênticos. E o luxo reside muitas vezes na simples possibilidade de estar em silêncio. Sentir o mundo a respirar à nossa volta, perceber que, naquele instante, nada mais é necessário. O silêncio tem esse dom: organiza a alma, dá lugar ao essencial e liberta o que pesa.
Assim como o silêncio, o tempo tornou-se num luxo. Por ser irreversível. E talvez seja por isso que se tornou no bem mais precioso. Ter tempo para nós, para quem amamos, para aquilo que nos faz sentir vivos, é a verdadeira riqueza. É sentarmo-nos para um café sem pressa. É conversar com alguém sem olhar para o relógio. É caminhar sem destino, deixar os pensamentos fluírem e sentir cada passo na terra e no coração. O verdadeiro luxo está nos momentos que nos pertencem e que são irrepetíveis.
Esta perceção leva-nos à simplicidade. E a simplicidade não é ausência, é essência. É escolher o que realmente importa e libertar-nos do excesso. É perceber que menos é mais, que o que nos faz sentir vivos não está na abundância, mas na autenticidade. É vestir algo que nos dá conforto, estar em espaços que acolhem sem nos prender, criar rotinas que nos aproximam do que realmente somos. É permitirmo-nos desacelerar sem culpa.
Este luxo de que falo não se compra e, na realidade, nunca se comprou. Está no silêncio que acalma, no tempo que nos pertence, na simplicidade que nos liberta. Está nos momentos que nos fazem respirar fundo, num abraço demorado, numa gargalhada que surge sem esforço ou numa música que nos toca o coração. Está na atenção plena que damos ao que temos à nossa frente e no cuidado que colocamos em cada gesto.
No fundo, por outras palavras, nada disto é sobre ter mais, mas sobre ser e estar mais presente. Encontrar beleza nas coisas simples, valorizar o agora. Perceber que a vida, vivida com atenção e amor, é o maior luxo de todos. Mesmo que nem sempre nos lembremos disso.
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