Por Cristina Amaro
Este é um tema sensível. Custa ler, escrever, falar. Sobretudo, recordar.
Mas tendo em conta a sua importância decidi recuperá-lo. Para que quem cuida nunca se esqueça que deve cuidar primeiro de si.
Dizia-me, há uns anos, a enfermeira que cuidava na altura da minha mãe, ainda acamada na sequência de um rol de problemas de saúde que a colocaram em perigo de vida durante várias semanas: “cuide de si primeiro, Cristina. Olhe que se a Cristina falha, tudo falha de seguida também”.
Esta afirmação – muito verdadeira – que gerou uma conversa longa e que me inspirou neste título, dá pano para mangas. No meu caso, tem dado muito que pensar desde 2014.
Nesse dia, a enfermeira Leonor percebeu que as olheiras às 8h da manhã se deviam a mais uma noite em branco. Mais uma de muitas. Andava com as minhas forças por um fio. Estava fragilizada pelo cansaço acumulado, mas senti a força das suas palavras.
Tenho uma ligação muito forte com a minha mãe. Sempre tive, na verdade. Seguramente que nunca vou deixar de ter. É talvez a pessoa que mais amo na minha vida e tudo o que faço por ela é – e sempre será – por amor.
Pode parecer pouco bonito de se dizer, mas a verdade é que dói ser cuidador. E na verdade os filhos, talvez, nunca o deveriam ser… É duro ver quem amamos ficar cada vez mais frágil. Por vezes, ficamos cansados, frustrados (e não devemos sentir-nos mal por isso!). Somos humanos, temos limites e é normal que os cuidadores precisem de não ser cuidadores de vez em quando. Que dispam a camisola para poder respirar.
Não é um assunto simples. Mexe com as emoções – as nossas e as dos outros. Mas é seguramente um dos temas que toca mais gente.
Mas cuidar de alguém também é mágico. Pelo amor que nos preenche o coração, pela paz que nos traz à alma e pela plenitude de um amor maior quando quem temos ao nosso cuidado é uma pessoa especial.
É tão bonito quanto difícil. Tão assustador quanto desafiante. É um medo constante. Da falha, de não saber, de não conseguir, de não poder. E, ao mesmo tempo, um sentimento de compromisso gigante. Porque dependem de nós. Somos o ninho. O abraço. O encosto. O apoio. O carinho. O pilar. Não podemos cair. Temos de estar ali sempre. Firmes. Mesmo quando tudo parece desabar.
É o amor no seu expoente máximo. Um misto entre a conquista e a derrota. O amor e a revolta. O apego e o desapego. O possível e o impossível.
É saber o quão difícil é e mesmo assim continuar, com todas as dores que isso implica. E, por mais duro que seja chegar a casa e ter de auxiliar “aquela” pessoa, acaba por ser o combustível diário para que a vida possa seguir em paz. Apesar de tudo. E com as forças que achávamos que não tínhamos e que encontrámos no meio do caos. Sabe-se lá como.
É, diariamente, arregaçarmos as mangas e vestirmos a capa de super-heróis, mesmo que pareça que já não é possível. Mas é. E volta a ser. Até que o amor exista. Que é como quem diz…sempre.
Este texto é mais do que um desabafo. É um momento em que manifesto o meu mais profundo respeito por todos os que cuidam diariamente de alguém. Mas é, acima de tudo, um alerta para que não se esqueça que cuidar bem de alguém implica também saber cuidar de si.
Por isso, procure ajuda – profissional ou familiar. Mime-se. Permita-se. Faça o que estiver ao seu alcance. Só não se esqueça de si!
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