Cristina Amaro
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Toda uma vida numa só praça

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A vida

Toda uma vida numa só praça

Quando fui pela primeira vez a Marraquexe, estranhei. Levei tempo a perceber se tinha amado ou odiado. E regressei a casa a pensar que, apesar de ter sido uma experiência intensa, havia muito mundo por descobrir antes de lá voltar. Enganei-me. Na altura não percebi que iria ter saudades muito pouco tempo depois, e só nessa altura entendi que a cidade se tinha “entranhado” em mim!

Quando o meu marido me disse que íamos para Marraquexe, numa viagem que manteve em segredo durante algum tempo (sim, porque era a surpresa de aniversário de casamento), confesso que adorei a ideia! E aí disse: “Afinal, Marraquexe deixou-me uma marca maior do que pensava.”

Só me lembrava de bons momentos. Só tinha boas recordações da minha estreia naquela praça frenética que juntava homens a encantarem serpentes, outros a fazerem macacadas aos turistas e mulheres a lerem a sina e a fazerem tatuagens de Henna a quem passava ali ao lado. Tudo no meio dos sumos de laranja acabados de espremer (deliciosos, por sinal), das charretes que se passeiam por ali, dos carros, das motos e das bicicletas, das pessoas de todas as cores e idades, dos frutos secos e dos frutos frescos, das cassetes e dos CDs… Uma misturada! Mas é toda essa mistura que lhe dá graça.

É tudo isso que a torna mundialmente conhecida, exótica e tão atrativa. E, na verdade, é mesmo tudo isso que nos deixa saudades… Adoro viajar. E viajar a locais tão diferentes é mesmo o que nos faz entrar noutras histórias. Desta vez, já sem medo de que os macacos saltassem para mim e as cobras deslizassem dos tapetes, entreguei-me à experiência. Deixei-me ir. E sei que vou voltar.

E toda uma história numa só viagem

Desta vez, fui sem guia. Gostamos de viver a vida local. De nos misturarmos com quem lá vive. Por vezes é arriscado, mas eu sou adepta do “no risk, no fun”! Por isso, bora lá de táxi para a medina.

Apanhámos um dos que estão à porta do aeroporto. Por sinal, uma nova e bela obra que torna a experiência muito mais cómoda. Na primeira vez o aeroporto era bem diferente… Claro que tinha de negociar o preço do transporte, mas isso deixei para o meu marido. É mais o género dele do que o meu… Fiquei ali, caladita, ao lado, apenas a observar, e disse para mim: “Isto vai correr bem… afinal ele até tem jeito.”

Para o Pedro, Marrocos era estreia. E eu ainda estava na dúvida sobre se ele iria gostar. Lá fechou negócio e lá fomos nós, de rádio ligado, a caminho da cidade. 

Quando nos vi a sair do táxi, numa rua estreita, no meio de uma multidão de miúdos a saírem da escola, já com três marroquinos à nossa volta, as malas num atrelado que iria ser puxado à mão, todos numa discussão que só revelava estarem tão perdidos como nós quando os via a apontar em direções diferentes agarrados ao nome do riad, pensei: “Acabei de entrar num filme.” Comer, Orar e Amar, era só desse que me lembrava…

Afinal, já não sei se vai correr bem, pensei…Mas o Pedro revelou-se. Agarra no telemóvel, aponta para a aplicação e diz: “É perto do Museu do Perfume!!” Todos pararam. Olharam para ele e disseram (presumo, porque de árabe eu não percebo um som…): “Isso não é aqui!” Deram ordem para se colocarem de novo as malas no carro. E lá fomos nós.

Estávamos longe. Voltámos ao caos das ruas em hora de ponta escolar, e fomos em direção ao riad. Pelo caminho, fomos recolhendo informações do taxista e chegámos sem sobressaltos.

Fomos recebidos com o tão típico chá, e pouco depois instalados no quarto. Só a chamada muçulmana para a oração nos fazia sentir que, à volta, havia tanta azáfama…

Nesse dia fomos ver o pôr do sol ao terraço. Estava de encantar! E foi aí – eu agarrada ao mapa de papel (sim, eu adoro viajar com mapas de papel e assinalar os locais por onde passo… não fosse eu uma jornalista nascida e criada numa revista…) e o Pedro a registar tudo o que mexia – que começou a nossa aventura de fim de semana.

A proximidade a Lisboa é mesmo uma das mais-valias de Marrocos em termos de destino de turismo de fim de semana. Marraquexe está a pouco mais de uma hora de voo de Lisboa. Num estalar de dedos, entramos nas histórias das Mil e Uma Noites. Vivemos novas sensações. E entramos no mundo encantado das cores e dos sabores das arábias.

Deixe-se perder pelos souks. Compre tudo o que lhe apetecer por lá e faça umas pausas nos jardins que vale a pena visitar. Eu deixo duas recomendações. Uma delas é secreta…

O lado mais vibrante e mais palpitante da “Cidade Ocre” é mesmo o que mais nos toca. E sim. Continuo a achar que se ama ou se odeia. Mas eu amo mais, de cada vez que lá vou. Visitei algum mundo desde 2012, altura em que lá fui em trabalho, mas Marraquexe continua a estar na minha lista de cidades de eleição.

Definitivamente, apaixona-me a vida.

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