Acordei cedo. O “bichinho da escrita” fez-me sair da cama ainda o sol não tinha nascido. Tinha a cabeça cheia de “coisas” para vos contar e estava em pulgas para começar a escrever a história da Casa de São Lourenço.
A Casa de São Lourenço – Burel Panorama Hotel não é um hotel qualquer. É um espaço cheio de alma. Cheio de histórias que vêm da antiga Pousada que foi comprada por 2 pessoas muito especiais para mim. Muito especiais não só para todos os que os conhecem mas também para aqueles que visitam este novo projeto ou a Casa das Penhas Douradas, que, juntamente com a Fábrica do Burel, formam o grupo Burel Factory & Mountain Hotels.
A Isabel Costa e o João Tomás são amigos que me acompanham há anos, e com quem já fiz muitas coisas bonitas. Tantas que não cabem nesta história… um dia falarei apenas delas. Com eles.
Deles, nesta história, posso resumidamente dizer que são pessoas apaixonadas pelo que fazem, e, especialmente por isso, criam marcas tão diferenciadoras, tão relevantes… As marcas são as pessoas e o grupo que eles criaram é o exemplo de um projeto feito com amor. Com muito amor.
Para trás ficaram grandes empresas e situações profissionais estáveis. Ela deixou a Sonae para se dedicar à Burel. Ele deixou o Millennium bcp para se dedicar aos hotéis. A Isabel e o João apaixonaram-se pela serra, pelo burel, pelas casas que recebem quem aqui quer ficar. Entregaram-se a um turismo de natureza, de montanha e de neve, com conceitos únicos onde o burel e a sustentabilidade da economia local estão sempre presentes.
A Isabel não esteve connosco. Esteve todo o fim de semana a fechar um projeto da Burel que a impediu de sair de Lisboa. Ossos de um ofício exigente. O João foi o meu contador de histórias pessoal. Que privilegiada sou!
Foi por aí que começámos. Com um jantar de histórias que nos fez viajar no tempo…
Quando chegámos, já tarde, na sexta-feira, fomos rapidamente ao quarto e sentámo-nos para jantar. Perdemo-nos na conversa sobre o que guardam estas paredes. Paredes que começaram por ser da Pousada de São Lourenço, uma das primeiras Pousadas de Portugal. Concebida por Rogério de Azevedo, a construção começou no final dos anos 30 mas durou até aos 90…porque, na verdade, este lugar foi sempre sendo intervencionado. Para crescer. Para se reinventar.
Em 2014, mudou de mãos. E nos últimos dois anos ganhou uma vida nova. A intervenção, que era para ser pequena, passou a integral. E dos tempos passados ficaram muitos pormenores. Surge agora um hotel totalmente panorâmico. Renasce pela mão dos ateliês P-06 e Site Specific, com nova vida. Mais voltada para a natureza. Para o ar puro. Para a simplicidade da montanha e para os seus tons.
Acordei devagar na manhã de sábado. Com a chuva. Com o vento. Já estava a escrever quando o meu telefone despertou e com o seu bom dia me fez saber que lá fora estavam 12 graus. Nada mau para a Serra da Estrela, pensei…
Mas nesse fim de semana, confesso, só me apetecia descansar…só me apetecia ficar por ali a aproveitar as lareiras, os livros, o spa, a piscina (onde nem sequer tive tempo de ir…), os sabores de cada prato, de cada docinho, de cada chá… No passado fim de semana, queria viver devagar.
Ainda antes do pequeno-almoço fui ler a história do hotel. Tinha ficado curiosa durante o jantar da noite de chegada. Conversámos sobre tanta coisa… mas eu precisava de mais! Entremos na história…
«Foi uma das primeiras Pousadas de Portugal, um conceito absolutamente inovador de pequenos hotéis “que não se parecessem com hotéis”, muito acolhedores, em que os hóspedes pudessem sentir a verdadeira hospitalidade, a beleza da paisagem portuguesa, as delícias da gastronomia local… “Conforto rústico, bom gosto, fácil no arranjo e no paladar, simplicidade amável… e poesia, alguma poesia…”, como em 1943 dizia o seu autor».
Começava assim a história contada no site do hotel. Respeitando, à letra, o que dizia o autor deste local. Fiel aos seus princípios, como somente a Isabel e o João sabem ser. As imagens antigas, ao lado das atuais, dão tempo ao verdadeiro tempo deste lugar. Por isso, aqui, não é para se passar. É para ficar. E foi ali que eu quis ficar. Lá dentro. De onde se vê a Serra, Manteigas e o Vale Glaciar.
Este lugar único é hoje o único hotel de 5 estrelas da Serra da Estrela. Uma casa tecida pelos fios de lã da montanha. Uma casa que vem dar continuidade a um projeto de valorização do património da serra mais alta de Portugal Continental.
Começa pelo burel. Este novo hotel está cheio de cantos e recantos decorados com e pelo burel. Desde as cortinas que namoram os quartos até à decoração de tetos, paredes e pormenores em que ele é o elemento central.
Há poemas bordados em placas de tecido, burel pintado e quadros espalhados pelo corredor no tecido que se transforma a partir da lã de ovelha e pela fábrica da família. Os sofás são em burel. As almofadas das cadeiras também. E tantas outras coisas que vai descobrir e adorar…é só ficar atento. Aprecie algumas das imagens nesta galeria.
A visita à Fábrica de Burel é absolutamente imperdível! O hotel organiza essa experiência, pelo que não pode deixar de aproveitar. Fique atento logo à chegada. A sala da lareira, na entrada, é magnífica, e a tela de burel na receção vale mesmo a pena apreciar.
É, aliás, logo na entrada que nos deparamos com um mundo espcial…o de Maria Keil.
Aquela que foi uma das designers portuguesas mais relevantes do século XX, e que decorou a Pousada nos anos 40/50, continua bem viva na Casa de São Lourenço. Todo o mobiliário que Maria Keil desenhou há mais de 70 anos foi recuperado numa carpintaria de Coimbra, tendo hoje nós, hóspedes, o privilégio de apreciar as mobílias da época adaptadas à modernidade. Uma clara homenagem ao design português.
Há três símbolos marcantes da sua obra que são imagem de marca do hotel: a estrela, a flor e a loba. Vai encontrá-los por muitos locais e em muitos materiais. Interpretados. Reinterpretados. Recuperados. Vivos. De novo.
Os SABORES “giros” de um jovem chef
É uma viagem aos sabores da serra e da região das Beiras. A sazonalidade marca a ementa e a reinterpretação das receitas ancestrais uma certeza. O restaurante é liderado pelo chef Manuel Figueira, um jovem talento de 21 anos que mostra ser uma alma adulta num corpo jovem. Ninguém diria que a sua idade lhe permitia ser um líder entre pratos, mas é!
Um chef que a equipa respeita e que o cliente só pode apreciar. Os sabores são «giros» como diz o João Tomás. E sim, são! Vale a pena ficar por lá a apreciá-los embalados pela vista deslumbrante a nossos pés.
O restaurante tem uma mesa grande, única, para grupos que podem ir até 21 pessoas, e mesas de dois lugares, que permitem escolhas mais românticas, ou para pequenos grupos, adaptando-se à medida das necessidades dos clientes. Nenhuma perde a vista. Todas têm um lugar especial.
Nessa mesma sala, de refeições, deixem-se perder pelos encantos do teto. As estrelas são de burel e casam com as cores de outono. Foram colocadas no teto, uma a uma, por um grupo de amigos que, num espírito de entre-ajuda e camaradagem, fizeram daquele momento uma boa memória. Talvez mudem de cor, duas ou três vezes por ano, confessa o João. Mas não todas! A tarefa é árdua para se considerar essa possibilidade…mas ter tufos espalhados com tons alusivos a cada época do ano, vale a pena considerar.
Levar o spa à montanha
O spa abre-nos a porta à natureza. Estende a serra a nossos pés e deixa-nos relaxar a mente com os olhos na beleza exterior. As salas de tratamento, a sauna, a piscina… todas têm vista para o verde das colinas e todas se tornam imperdíveis. Uma experiência em que vale a pena investir algum tempo para cuidar do corpo.
A piscina assume um compromisso entre o interior e o exterior, e quer esteja frio ou calor, ela recebe-nos com água aquecida. Vou deixar as fotografias falarem por si…
Não mergulhei por falta de tempo. Foi para mim um fim de semana de trabalho e lazer. Mas como gosto de deixar sempre algo para voltar, aqui está a minha promessa que o farei quando a neve me convidar.
António Ferro, impulsionador da criação das Pousadas de Portugal, nos anos 40, já dizia que era preciso trazer poesia à economia… Nós testemunhámos, numa ida à Casa de São Lourenço, que é uma verdade. A Casa que nasce bem perto de Manteigas, é uma história de amor escrita por quem gosta de receber e de oferecer o melhor que a região tem. Um poema vivo que vale a pena conhecer e experimentar.
Apaixonam-me as pessoas que se entregam aos sonhos e os tornam realidade. Com a poesia e a economia de mãos dadas.
Uma dica final: levem convosco o chinelos de burel que estão nos quartos. São uma oferta da Isabel e do João que vão gostar de ter durante mais tempo… E se os quiserem usar no hotel, também podem. A ideia é sentirem-se em casa. Em vossa casa. Aproveitem.