Por César Ferreira
Tudo tem um fim. Projetos que começámos, projetos que nem começámos, uma relação, uma chávena de café, um passeio, um livro, uma vida. Iniciamos uma coisa, mas esta termina assim que chega a sua hora. Nada é eterno e tudo aquilo que não partilha desta temporariedade só cabe em nós durante um determinado período de tempo e de forma faseada.
Às vezes penso que este tipo de finitude deveria ser o principal motor da nossa motivação. Para viver e fazer enquanto temos tempo. Mas a força também falha e os nossos olhos também perdem o brilho. Tornamo-nos uma espécie de escravos da felicidade em que nos obrigamos a procurar o que nem temos a certeza se irá funcionar. Mas mesmo assim continuamos. E de certa forma é isso que nos mantém vivos.
Há algo de curioso no desenvolvimento da humanidade. Para mim, é o facto de ela mesma possuir o início e o fim de todos os homens e mulheres. Tudo o que dela brota, inevitavelmente, acabará por morrer.
Victor Hugo afirmava que “a humanidade tem dois pólos: o verdadeiro e o belo”. Será que nos perdemos algures no meio? Naquele ponto em que tudo parece igual? Em que todas as saídas vão dar ao mesmo sítio?
Morte e Vida. Vida e Morte. Duas palavras que sustentam a essência e a veracidade de todas as coisas.
Não devemos ter receio de usar a palavra morte -com tudo o que esta representa- do mesmo modo que utilizamos a palavra vida. A experiência que dá a cada uma é que determina o seu sentido. E o sentido é o modo como a sente e a aplica na sua vida.
Nem tudo é tão simples assim, correto? Afinal, adoramos pensar que tudo tem de ser complexo, complicado, exaustivo para dar certo. Mas o que acontecerá quando soubermos -se soubermos- que a mais pura da partícula é, efetivamente, simples? O que faremos de nós assim que chegarmos à conclusão que aquilo que temos a fazer é simples?
Gosto de resumir tudo isto utilizando a expressão “até um dia”.
Até um dia que esteja preparado para arriscar
Até um dia quando tudo estiver no momento ideal para agir
Até um dia quando for mesmo urgente dizer amo-te
Até um dia quando ganhar forças para dizer “Não!”
Até um dia quando tiver dinheiro suficiente para largar o emprego que me atormenta
Até um dia quando puder ir visitar-te a casa, ao lar, ao hospital
Até um dia que tenha disponibilidade para investir em mim
Este “até um dia” é um assassino de sonhos e de esperanças. Perdemos grande parte do encanto da vida por termos uma atitude “até um dia”. Aí sim, vivemos no extremo em que tudo só vive ou já está morto.
Prefiro que me digam adeus do que até um dia. Mentalmente é bem diferente. O adeus é mais sincero e chega mesmo a ser uma espécie de libertação.
Como pode evitar cair na armadilha do “até um dia”?
Primeiro, tome a decisão de erradicar esta expressão do seu vocabulário. Sim, o que dizemos, mesmo que da “boca para fora”, tem impacto.
Segundo, invista em si. No seu autoconhecimento, no seu desenvolvimento. Na sua magia. Para isso leia e experiencia. Leia bons livros e aplique a sua mensagem à sua vida. O conhecimento é a fonte de todas as competências. Tudo em si tem conhecimento.
Terceiro, não pense muito na morte nem na vida. Interesse-se mais pelo que vive entre ambos. A ação, a conquista e o caminho encontram-se nesse espaço. Amplie-o com boas decisões, com brilho, com alegria e, acima de tudo, com amor por si e pela vida.
No poema “Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia”, Alberto Caeiro escreveu:
Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas— a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.
Torna teus todos os dias porque, na verdade,
todos os dias são mesmo teus.
Desejo-lhe momentos inspiradores e um Mega Ano de 2020
Boas Leituras,
César Ferreira
Mentor para a Aprendizagem, Mentor de Autor e Biblioterapeuta