Convidei a nossa Diretora Criativa de Conteúdos, que esteve na “casa dos negócios bonitos” em reportagem para o Imagens de Marca, a deixar-nos umas palavras sobre o que mais a marcou nesta experiência. Foi o entusiasmo dela e o brilho nos olhos que me soltou um “porque não partilhas tudo isso no meu blog?” Tive tanta pena de não acompanhar a conferência que quis, não só partilhar convosco, mas também “entrar à distância na ‘House'”.
Apesar de saber que há coisas que só se sentem quando se vivem, acredito que a capacidade descritiva da Mizé abre-nos a porta para nos transportar ao local. O texto confirma-o.
Se quiser juntar os rostos aos nomes, sugiro que veja a emissão do Imagens de Marca ou que visite o site do IM porque lá tem tudo isto e muito mais. Num tom naturalmente informativo. Fica o link. Boas leituras Cristina Amaro
Este texto chega uma semana depois de termos experienciado a House of Beautiful Business. Foi escrito seguindo uma das aprendizagens da “Casa”: precisamos de fazer as coisas com tempo! É longo, por isso deixem-se ir escorregando pelas palavras…
Chegámos cedo. E digo chegámos, porque não fui sozinha. Este é um trabalho de equipa. Eu ouço e tomo notas e o João Ricardo, repórter de imagem, filma. Estávamos ambos curiosos, e talvez um pouco ansiosos – confesso – por conhecer a “House of Beautiful Business”. Quisemos entrar de forma discreta, até porque os jornalistas não são os inquilinos mais esperados pelos residentes da casa ao longo de uma semana. O programa indicava as 7h30 da manhã como a hora para a alvorada na casa com uma aula de Yoga. Choveu… a aula foi transferida do Rooftop para um quarto minúsculo. Pediram-nos privacidade e nós baixámos a câmara.
Seguimos para o “breakfast” servido no café da casa. Ali, misturámo-nos com os residentes madrugadores que já enchiam a pequena sala estreita e comprida de uma melodia de conversas compostas por notas de diferentes idiomas, mas que se conjugavam no tom mais alto do inglês.
A casa ficou instalada no boutique hotel Dear Lisbon Gallery House, na Rua de São Bento, na rota do emblemático elétrico 28. O espaço foi despojado da decoração habitual para se adaptar às atividades do evento. A receção era o hall de entrada com charriots onde se deixavam os casacos e malas – algumas de viagem, denunciando a chegada de um novo residente, oriundo de uma qualquer cidade da Europa, África, Ásia ou América do Norte. As chaves dos quartos do hotel foram substituídas por fitinhas – a lembrar as do “Senhor do Bonfim” – dando aos residentes o acesso a todas as divisões e, desta forma, evitando que fossem vistos como intrusos. Os quartos perderam o caráter privado e de portas abertas convidam a uma desarrumação das ideias em momentos de talks intimistas, live labs temáticos, estúdios de música ou workshops de Mindfulness. As salas comuns criavam espaço para reuniões e palestras com pensadores de diferentes backgrounds… anunciavam-se ainda jantares silenciosos entre outras experiências lúdicas e de aprendizagem.
A House estava também preparada para nos alimentar o corpo com os workshops de culinária onde se abria o apetite à imaginação com perguntas que eram colocadas aos participantes sobre o que poderia ser a alimentação do futuro… circular por ali, era como se em cada canto e recanto houvesse sempre uma janela para abrir no pensamento, que, à medida que eu ouvia os oradores, ficava mais… e mais arejado.
Uma House cheia de ideias
Como o espírito da Casa é pensar na humanização dos negócios e colocar a atenção nas pessoas enquanto força de trabalho, decidi dar ouvidos às ideias que se soltavam em algumas conversas que selecionei do programa. Judith Wallenstein, diretora geral do Boston Consulting Group de Munique, partilhou um estudo que nos pode revelar algumas verdades sobre o futuro do trabalho. E afinal que verdades estão já a moldar os modelos laborais e os locais onde se trabalha? O estudo envolveu 11 mil trabalhadores de diversas geografias – mas não de Portugal – e ainda que Judith me garantisse que é um retrato que não será diferente por cá, franzi a testa zangada. – Então a nossa visão não conta?! Sabemos que os movimentos de imigrantes que estão hoje a entrar em muitos mercados maduros, a tecnologia ou o chamado Gig Work, são algumas das tendências que estão a desenhar novas formas de encarar o trabalho e novos ambientes para se trabalhar. É interessante perceber que a tendência para se viver do trabalho independente – o tal “Gig Work” – como uma segunda forma de obter rendimentos está a crescer. E não são só os Millennials a optar por este modelo. Muitos dos inquiridos das gerações mais velhas, e que experimentaram o trabalho como freelancers, quando questionados se gostavam de manter esta autonomia, referem que sim. Ao contrário do que pensávamos, esta relação com o trabalho como profissionais independentes já não está ligada à falta de qualificações, pelo contrário, é a mão de obra muito qualificada que decide com quem quer trabalhar e por isso hoje há também um problema de retenção de talentos. E contrariando também o que muitas vezes se apregoa, os trabalhadores encaram o futuro com mais otimismo do que muitos gestores. Não veem na tecnologia uma ameaça, estão conscientes de que têm de estar envolvidos nas mudanças dos modelos de trabalho, que, segundo este estudo, vão seguramente ser cada vez mais flexíveis.
Cada nota de uma pauta de música produz um tom em particular na composição de uma sinfonia, e cada pequena alteração desse tom vai certamente mudar a música. Foi mais ou menos assim, sentada ao piano, que a jovem Mafalda Visitação, responsável pelos programas de Trainee da Galp, marcou o ritmo da sua visão sobre a importância de cada pessoa numa organização e na cultura de uma empresa. A talk intitulava-se “Generation Silver” e cruzava os pensamentos dos mais novos e das gerações mais velhas. Da millennial Mafalda, retive que a paixão e flexibilidade são ingredientes importantes para esta força de trabalho jovem e que a reforma não é uma opção, pois encaram o trabalho para toda a vida. Um sentimento partilhado por Carlos de Melo Ribeiro, nome ligado à Siemens Portugal durante vários anos, em cargos de liderança nacionais e internacionais. Com uma longa experiência de vida profissional, Carlos considera que não se deve mesmo parar e há cada vez mais a necessidade de se saber sair a tempo das empresas para ter ainda tempo para fazer outras coisas. No seu caso, coloca atualmente o seu saber e networking que construiu em 3 décadas de atividade ao serviço dos filhos empreendedores. Fica aqui um conselho seu: “Estas duas gerações devem trabalhar em parceria, porque os mais velhos têm a sabedoria e os mais novos a energia para a ação! E como estão as empresas a gerir estas mudanças e como olham para as suas pessoas com a tecnologia e a Inteligência Artificial a tomar conta das tarefas rotineiras e a executá-las na perfeição? A cada conversa que se escutava soltavam-se diferentes ideias, mas também questões… muitas questões!
Esquecer tudo o que se sabe e voltar a aprender
Foi na Casa que tive a oportunidade de conhecer o atual diretor de pessoas da Galp. A marca portuguesa é parceira estratégica do evento este ano, e se o é, foi porque Paulo Pisano percebeu quando entrou na Casa na edição de 2017, que esta era uma conferência diferenciadora pelo grupo de pessoas que reunia, com diversos backgrounds, cruzando as perspetivas sobre o trabalho de filósofos, psicólogos, etnógrafos, gestores, empreendedores e artistas, entre muitos outros. E depois o carácter intimista da “casa” com cerca de 300 a 500 pessoas que permite que os olhares se toquem e que se sinta o mundo do trabalho num ambiente informal e repleto de experiências. Paulo Pisano confessou-me ter sentido até alguma “inveja” por não ter sido ele a pensar neste conceito. Ele, que desde que trocou Londres por Lisboa, há cerca de 3 anos, tem vindo a empenhar-se neste processo de humanização da empresa. Tem plena convicção de que é preciso criar outro tipo de atividades dentro das empresas para despertar o lado mais humano, criativo e inovador das pessoas. Conta-me a dada altura que criaram as “Galp Talks”, por onde já passaram astrónomos, psicólogos e nutricionistas em sessões para os colaboradores. Uma das sessões foi dedicada ao Mindfulness, e teve tanto sucesso que inicialmente a empresa ia oferecer um ou dois cursos para 20 pessoas, e hoje, já são 500. A mudança mexe também com o local de trabalho. Não é por acaso que a arquiteta Alice Haugh do UNStudio de Amesterdão, uma curiosa sobre a vida urbana no futuro, nos fala do sucesso de empresas como a norte-americana WeWork, hoje com mais de 20 mil empresas como clientes, presente em mais de 53 cidades em 5 continentes. E não é por acaso que a comunicação desta marca assenta em mensagens como esta: “Come for work, stay for beer”. A casa segue também este espírito. Às vezes não basta mudar a mobília de sítio, temos mesmo que tirar tudo da sala, é que dessa forma também podemos “esvaziar a mente” e partir para novas aprendizagens, como referiu ainda Paulo Pisano, depois de ouvir um dos oradores, fundador da “School of Nothing”, afirmar que aquilo que nós não sabemos é muito maior do que aquilo que sabemos.
Somos humanos!
E quando pensava que já tinha ouvido tudo o que podia ouvir, eis que me aparece à frente a Paula Marques! Uma surpresa nortenha, com aquela genica de quem não se deixa tolher pelo frio, ao contrário de nós lisboetas, encolhidos pelo inverno. É diretora executiva das soluções à medida da Porto Business School e desarmou-me mais uma vez as ideias que já se iam acomodando. É autora do livro A Era dos Super-Humanos – que é uma das minhas próximas leituras obrigatórias – fala-me de como o QI já não nos vale de nada. Explica-me que o mundo de incertezas em que vivemos precisa de outras competências humanas. Temos de ter uma “Begginer mind” em vez de uma “Expert mind”. É preciso voltar à curiosidade das crianças, fazer perguntas, porque as respostas estão no Google” e na sua perspetiva: quem fizer a melhor pergunta tem o melhor negócio. Explica-me que é este o “environment” que as organizações têm de proporcionar, sendo cada vez mais “learning communities”. Hoje, andamos todos em modo automático que até nos esquecemos daquilo que nos define como humanos, e, por mais estranho que pareça, é este regresso ao “só sei que nada sei” que nos vai permitir conectar o possível ao impossível, como na cozinha misturamos ingredientes que à partida não casam, mas somos curiosos e criativos, por isso testamos e depois… surge uma harmonia de sabores que tornam o nosso prato único… a humanização dos negócios também se pode servir desta analogia. A curiosidade, o pensar futuro, as interceções, o storytelling, o olhar nos olhos, são competências humanas que permitem criar o que as máquinas vão executar na perfeição. E, de repente, termino também esta minha história, que se foi construindo com as memórias de um dia na Casa, com um sorriso nos lábios… orgulhosamente humana!