Por Cristina Amaro
Antes de tudo isto acontecer, tinha uns dias marcados para estar comigo. Para ter tempo para mim. Infelizmente, a pandemia mudou-me os planos e em vez de parar para descansar tive de acelerar os motores para fazer frente a esta situação inesperada para todos nós.
A pausa para ler, para escrever, para conhecer novos lugares e para cuidar da mente e do corpo foi trocada por um isolamento voluntário de toda a empresa. E poucos dias depois acabámos todos fechados por obrigação. Sabemos que é para um bem maior. Que estamos a fazer a nossa parte para controlar o crescente galopar do coronavírus, que teima em deixar marca por onde passa. Por isso, aceitamos. Que remédio temos. Mas que muda a nossa vida muda.
Sou do grupo de pessoas que gosta do silêncio. Preciso dele para me encontrar no meio do ritmo acelerado da vida. E se para alguns estes dias são mais tranquilos, para mim não. Trabalho o mesmo. Ou ainda mais. Porque se estende um pouco no fim do dia ou porque começa antes mesmo de tomar banho de manhã, para não deixar fugir a ideia. Não há distrações nem cafés com os colegas ou almoços mais demorados no jardim. A própria exigência do momento obriga-me a estar “on” mais tempo e, muitas vezes, ver o dia juntar-se à noite sentada ao computador. Quando não é a noite que vê nascer o dia pela manhã…
Estas semanas têm, por isso, sido intensas. Com a gestão de uma empresa em teletrabalho. Com a crise desta paragem económica. Com a produção de informação a um ritmo mais intenso, gravações em casa e novas ideias a nascer quase diariamente. Junta-se a isto a casa, que precisa de ser arrumada (porque quem cuida de nós também tem de parar para cuidar de si) ou o almoço que tem de se pôr no forno, ou a família que precisa de apoio. Entre máquinas de roupa e ferros de engomar, sinto, cada vez mais, que me tenho esquecido de mim. Hoje nem tirei o pijama!
E hoje foi um desses dias. Senti saudades de estar sozinha. Saudades de estar comigo. De ouvir apenas os sons da natureza. De fazer somente o que me apetece, sem responsabilidades, sem obrigações. Faz-me bem não ter nada para fazer e fazer só o que o meu corpo me pede. Gosto tanto de ter tempo para mim mesma, para esses momentos terem lugar na minha vida. E o bem que me fazem…
Senti saudades de mim. De ser a minha única companhia. De ter tempo para me ouvir a mim mesma. Para saber o porquê dos meus sentimentos. Voltará o tempo. Voltarei a conseguir. Agora, continua a ser tempo de cuidar dos nossos. Mas importa parar, nem que seja meia hora, para somente dizer isto a nós mesmos. Serena o coração. Faz-nos perceber que ainda nos ouvimos. E quão importante é ouvirmo-nos…
Passei só mesmo para dizer isto. Tenham uma boa semana.