Por César Ferreira
Por mais que tente, em frente ao espelho, treinar o meu sorriso com os olhos, temo estar a fazer o insuficiente. Não sei o que se passa comigo, mas desde que uso máscara para sair à rua descobri que esta é uma questão na qual tenho de trabalhar. Aprender a sorrir sem ser com o movimento da boca.
Quando tapamos uma parte de nós, outras partes sobressaem. A dúvida reside é se nos compreendem com aquilo que temos disponível de momento. Utilizar máscara trouxe-me um conjunto de dilemas para os quais nunca tinha direcionado a minha atenção. Como as coisas mudam quando somos impulsionados a estar numa forma em que nunca estivemos.
Se cumprimento alguém que conheça na rua dedico-me mais para que perceba que estou mesmo a sorrir do que ao próprio sorriso. É irónico, mas ao mesmo tempo revelador das nossas habilidades de comunicação, o quanto desconstruímos a essência do que de nós revela, a meu ver, um dos pontos mais humanos: o sorriso.
Shakespeare afirmava que “é mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que à ponta da espada”. É importante, pelo menos para mim, arranjar então um modo de sorrir, pois a espada já pouco ou nada tem que fazer no meu conceito de mundo.
A maioria de nós encontra-se embebida na estranheza dos dias que correm. Por isso, é aceitável dizer-se que estamos todos a tentar lidar com o desconhecido. Uma espécie de novidade que ora pende para o recolhimento, ora se inclina para a euforia. Entre uma coisa e outra vamos inventando novos jeitos de executar as tarefas mais simples e corriqueiras.
Acredito que somos mais criadores do que repetidores. E todas as formas que a vida é capaz de assumir, ela acaba mesmo por a essas se moldar. Muitas vezes à socapa e com um bom empurrão, mas vai. A vida é como a água, pois encontra sempre maneira de fluir. Tal qual o sorrir, desde seja a intenção.
Quando chego a casa e vejo as marcas da máscara na minha face, lembro-me de que apenas cumpri o que me foi pedido. Sem receios e heroísmos. Apenas desempenhei o que me compete. E isto faz-me sorrir e acreditar que, pelo menos nesse dia, tenho razões para estar em paz e agradecer por fazer parte dos que se protegem a si mesmos e aos outros.
Enquanto continuo a adaptar o meu rosto a uma nova maneira de estar, recordo a liberdade dos dias cinzentos. Aqueles dias em que talvez tivesse tudo para sorrir, mas em que optei por contrair os lábios em modo de tristeza. Por negar a felicidade ou mesmo as prendas que a vida me dava de forma dissimulada.
Dias dessa natureza trazem também consigo um género de máscara. Algo que nos impede de observar mais além, mas que nos protege da emoção em falso. Devemos honrar o choro quando o coração nos pede que choremos. Na verdade, é importante agraciarmos cada emoção que temos o privilégio de experienciar.
O sorriso é um gesto de leveza que tem a facilidade de flutuar acima de uma máscara. E isto dá-me o conforto de que necessito e leva-me a investir mais em sorrir com o coração.
Sem que me alongue mais neste texto, quero partilhar consigo um dos livros que me faz sorrir e sentir ligeireza. Trata-se do livro “Vaca Sagrada” de David Duchovny. Um livro que nos provoca umas valentes risadas do princípio ao fim.
Que o sorriso a(o) acompanhe sempre!
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas Leituras,
César Ferreira
Mentor de Autor, Mentor para a Aprendizagem e Biblioterapeuta