Por Cristina Amaro
Sem teleponto. Sem realizador. Sem operador de câmara. Sem ninguém da equipa de produção de um programa de televisão. Ainda assim, a fazer televisão.
As minhas novas quartas-feiras são um desafio. Em poucas horas assumo papéis que nunca desempenhei e que em momento algum na vida esperei desempenhar. Na verdade, só não carrego eu no botão de gravar do telemóvel porque quem o faz é o meu marido. Que sorte ter em casa alguém que acha graça a estas aventuras. Mas se fosse necessário, digo-vos, ao que sei hoje também o faria! Vale tudo nos dias que correm.
O que antes fazia com uma equipa de 3 pessoas no terreno, poucas mas suficiente para as gravações de pivots das emissões regulares, e com mais 2 ou 3 em pré-produção agora faço tudo sozinha. Escolho os espaços de minha casa. Faço testes de som e a gestão do guarda roupa (que por sorte tinha trazido mais há 1 mês atrás) e ainda tento adequar ao assunto e ao local onde optamos por filmar. Arranjo o cabelo, as unhas e até me aventuro numa maquilhagem que prefiro sempre ter quem faça (mais que não seja porque me permite uma pausa para descansar.). Agora, até na luz do cenário tenho de pensar, sem esquecer os acessórios de decoração que podem dar alguma graça ao ambiente. E nós continuamos a ser de pormenores.
Ainda assim, confesso que nada disto é o meu forte.
A minha equipa há muito que faz milagres, mas assim é de facto motivo para vir aqui partilhar como tudo isto acontece com cada um de nós nas suas casas. Dos pivots (em que assumo papel de maquilhadora, cabeleireira, stylist, produtora, técnica de som, direção de fotografia e realização…já agora sem esquecer o papel que me coloca ali, o de rosto do programa) à pós produção, tudo é feito de uma maneira que, por vezes, mais parece um milagre semanal.
Trabalhar à distância, quando o resultado do trabalho depende de um grupo de pessoas – cada uma a fazer uma parte -, sem estarmos juntos e sentados na mesma mesa tem sido isso mesmo: um milagre. E isso dá-nos alento, orgulho e força para continuar. A todos nós. Todos temos assumido os nossos novos papéis sem nos queixarmos e sem falhar no resultado final. Mas já se nota, às terças e quintas, quando nos juntamos todos em vídeo conferência, que só já nos apetece voltar para a House.
Se a mim me custa assumir todos estes papéis uma vez por semana, posso imaginar a falta que as salas de edição e a redação não estão a fazer aos jornalistas, editores de imagem e produção.
Quando o Imagens de Marca chega às nossas casas para que se possa fazer visionamento antes de seguir para a SIC, os nossos olhos e ouvidos vão buscar tudo e mais alguma coisa. Por vezes, também deitam uma lágrima porque sabem o que está por detrás de cada minuto daquele tempo.
Detetamos as mais pequenas coisas – que quem não é da área nem vê- e, apesar de orgulhosos pelo resultado final, sabemos que não deviam lá estar. O som de uma cabine devidamente isolada nunca se consegue substituir por uma gravação em casa. A imagem captada por um repórter de imagem traz outra beleza aos entrevistados e ao storytelling. A magia que se coloca na peça quando se soma todas as partes tem uma qualidade que é inigualável!
Estamos há 1 mês a trabalhar em casa. Todos nós. Estamos há 1 mês a emitir um produto premium broadcast gravado a partir de computadores e telemóveis. Com o que isso tem de bom e de mau. Há umas semanas, tínhamos no mesmo programa entrevistados nos Estados Unidos, Ásia e Moçambique. Numa emissão normal isso não aconteceria porque os custos e necessidades de produção de uma aventura dessas se tornariam incomportáveis. E isso é uma enorme vantagem que talvez a venhamos a integrar no futuro. Mas, ainda assim, nós sentimos falta dos colegas no mesmo espaço, das ideias que surgem no corredor e dos nossos materiais de trabalho que não podem ir com cada um de nós.
Fazer televisão a partir de um telemóvel é claramente possível, mas fazem falta alguns pozinhos de magia que só se conseguem dentro de um espaço criado para se fazer brilhar a informação e prender o espetador, também, pela beleza da imagem. É muito verdadeira a expressão “em tempos de guerra não se limpam armas”. É isso que estamos a fazer todos os dias no Imagens de Marca. Fizemos desde o primeiro minuto o que devia ter sido feito: privilegiar o conteúdo.
É esse o meu papel principal. Pôr em primeiro lugar o conteúdo. E felizmente que em mim isso já era natural. O que me parece que não vai acontecer com todos os outros papéis que assumo, integra-los na minha vida futura. Mas que importam eles quando mesmo sem nada se tem tudo?