As palavras encontram sempre o seu lugar. Seja num texto, numa conversa a dois, num gritar de esperança ou num reforçar da verdade perante argumentos que nos acusam, as palavras moldam-se às emoções, desde que estejamos dispostos a encaixá-las no momento certo. Mas estas são as palavras ditas, aquelas que temos a coragem de pronunciar ou escrever e que representam o que o coração quer mesmo dizer.
Porém, existem também as palavras não ditas. Aquelas que nos pesam vida fora por não conseguirmos, pelas mais variadas razões, verbalizá-las. E são estas que nos pesam, levando-nos a visitar um mundo onde quase tudo falha por carência de amor e de leveza.
Um coração pesado tem os mesmos gramas que um coração leve, mas pode bater mais lentamente por não saber porque bate. Um coração pesado tem a capacidade de tornar toda a vida árdua e, com isso, fazer-nos ancorar para todo o sempre em determinada história.
As palavras que não dizemos não morrem em nós, mas fazem-nos morrer sorrateira e brutalmente sem aviso prévio.
Considero que não podemos avançar muito quando o coração nos pesa. É mais desafiante concretizar o quer que seja, quando transportamos partes da nossa história que ainda não resolvemos.
Hannah Gadsby, comediante, atriz e escritora australiana, afirma que “aprendemos com a parte da história em que nos concentramos”. É através deste olhar que aprendemos a aceitar, a processar e a libertar o que já não nos pertence por direito.
Se, por um lado, somos o somatório de todos os factos que aconteceram, quer por vontade própria ou não; por outro, somos a história que construímos diariamente com as nossas próprias mãos e de forma consciente.
A maioria de nós tem momentos da história que gostaria de esquecer para sempre, ou mesmo fazer de conta de que nunca existiram. Não sei se esse será o caminho ideal para que o coração se torne leve. Cada um terá, certamente, o seu modo de lidar com isso. Contudo, e perante a ideia de que o ser humano tem de esquecimento, julgo que se esquecermos sem primeiro tratar, será o mesmo que colocar a sujidade para baixo do tapete dizendo que o chão ficou limpo. Mais cedo ou mais tarde alguém irá levantar o tapete.
Um coração fica pesado, demasiado pesado, assim que reprimimos, sucessivamente, um momento que nos marcou pela negativa. Um dizer que sim quando queríamos dizer que não, um “engolir a seco” uma situação que sabemos ser injusta, um abuso que sofremos e que, por medo ou crítica, trancamos a sete chaves, deixando que isso nos consuma toda a alegria e a vontade de estarmos vivos.
Um coração pesado é um coração trancado em si mesmo por si mesmo.
A verdade tem a capacidade de libertar um coração desde que as palavras e os atos utilizados estejam em sintonia com as emoções. É insuficiente quando se diz a verdade só por dizer. É importante que a verdade venha de dentro, trazendo à superfície o que necessita ser resolvido, tratado e libertado.
Tornar leve um coração não é esquecer a verdade, mas dizer a verdade sobre aquilo que queremos esquecer. E é nesta tomada de decisão que a nossa vida começa aos poucos a ganhar leveza, amor e a renascer.
O coração funciona independentemente da nossa vontade. Podemos pedir que pare, mas ele continua. Mesmo pesado, ferido, incoerente, ele mantém a sua função: manter-nos vivos.
Para que o seu coração se torne leve, limpe-o do que o deixa pesado. Seja do passado ou da expetativa do futuro, permita que o seu coração seja a fonte de onde toda a vida brota e a verdade reside.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas Leituras,
César Ferreira
Mentor de Autor