Há uma certa nostalgia que surge quando vemos, através de uma janela, a chuva a cair. Como que embalados pelo som irregular da água nos vidros, somos levados a um estado de introspeção profunda. Pesamos o que foi com o que ainda pode vir a ser. Sentimo-nos no meio de algo que nos inspira, mas que também nos faz sentir impotentes. Enquanto o tempo teima em parar dentro de nós, tentamos seguir em frente assim que a chuva parar de cair.
Há estados emocionais que, por mais que evitemos, continuarão a fazer parte da nossa vida. Não está certo nem errado. É o que é. Não somos certamente uma máquina programada para desempenhar tarefas sempre da mesma maneira. A nossa humanidade reside nos altos e baixos que sentimos dia após dia. Aceitar e experienciar os estados de que menos gostamos é avançar mesmo que a chuva não cesse.
São muitas as pessoas que levam a vida inteira a tentar afastar tristezas, fazendo disso a sua missão. Mas estagnar é coisa que o tempo não faz. O tempo continua para que realizemos qualquer coisa. Seja de que forma for, o tempo é o conselheiro que nos diz ao ouvido que tudo tem um princípio, um meio e um fim. O tempo é uma espécie de sábio que orienta quem por ele passa.
A tristeza, a raiva, o medo, a culpa, são estados que ninguém deseja. Fugimos deles, por mais que possamos aprender com eles. Já imaginou como seria a sua vida se não tivesse a oportunidade de chegar, mesmo através do escuro, ao interruptor da luz? Já imaginou como seria amar sem aceitar e perdoar?
Por mais que tentemos selar o mármore frio das nossas vidas, jamais conseguiremos contrariar a natureza porosa de que somos feitos. Tudo isto para que a nossa grandeza seja algo em aberto e nos permita crescer e atingir níveis mais altos de satisfação.
Aceitar, viver e continuar em frente é como deve encarar o que sente de menos positivo. Tudo o que luz tem em si o oposto. A inação da ação. O avesso da cor. A nuvem cinzenta que permeia o sol.
Talvez seja este o timing certo para ir para a rua mesmo que a chuva esteja a cair. Talvez queira descobrir o lado B de uma situação que renega há demasiado tempo. Talvez ambicione lapidar a tristeza para dela retirar o seu próximo sucesso.
Se tudo viesse até nós com demasiada facilidade, teríamos outro tipo de frustração. O desassossego de que nada estamos a fazer.
Não procuramos mais por termos pouco, mas pelo facto de ganharmos vida assim que superamos um obstáculo.
Em momentos de descrédito, a chuva faz-nos ficar em casa. Abrigados. Aninhados. Agarrados às nossas sombras de estimação.
Se ambiciona apreciar todos os lados da vida, entregue-se de igual forma a todas as emoções. Com cada uma aprenderá uma valiosa lição que o fará expandir-se e ser melhor. Este é um trabalho em aberto. Nada é permanente. Poderá ter de voltar atrás para seguir em frente. E está tudo bem.
Dois dos livros que poderão ajudá-lo a gerir melhor as suas emoções de forma a viver uma vida mais preenchida e equilibrada são “Treinar as Emoções para Ser Feliz”, de Augusto Cury, e “O Livro das Emoções”, de Laura Esquivel.
Na obra de Augusto Cury temos a perspetiva de que podemos treinar as nossas emoções, sem no entanto as evitarmos. Abordando de forma brilhante o facto de “a felicidade não ser um dom, mas uma conquista”, este livro será uma importante leitura para saber lidar com as emoções menos positivas.
Autora do best-seller “Como Água para Chocolate”, Laura Esquivel incentiva-nos, através de “O Livro das Emoções”, a olhar para dentro de nós como forma de resgate da nossa liberdade e da nossa identidade. Aprender a escutar a sua voz interior é um dos ensinamentos com mais impacto que irá encontrar nesta leitura.
Sempre que a chuva cair, não deixe de realizar o que tem a realizar. Faça-o de outra forma, mas faça-o. Aceite. Viva. Siga em frente.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas leituras,
César Ferreira
Biblioterapeuta e reading coach