Por Sara Santos com Cristina Amaro
Fui convidada pela Associação das Empresas Familiares, para uma Conferência na Nova SBE sobre “O Poder Regenerativo das Empresas Familiares”. Tema que me apaixona e que desde a primeira hora me fez reservar agenda. Como o tempo do dia a dia é curto para tantas tarefas e compromissos, desafiei a responsável pela comunicação interna da The Empower Brands House – empresa que lidero – e também minha assistente executiva, Sara Santos, para ir comigo e escrever ela um texto sobre o que por lá se discutiu para partilhar convosco.
Foi uma manhã muito interessante da qual trouxe algumas inspirações importantes, como a que o fundador do Grupo Champalimaud na abertura do seu painel: “As empresas familiares nascem por amor aos filhos”, Manuel Champalimaud. Achei uma delícia, não fosse eu defensora deste tipo de projetos. De alguma forma, é isso que sinto em relação à empresa que fundei por amor a um sonho.
Não tenho filhos biológicos mas tenho uma equipa que para mim faz parte dos “muitos filhos” que tenho. A House é gerida por mim, enquanto acionista única, mas é uma empresa familiar pelo espírito que se vive dentro dela. Desenganem-se, porém, os que pensam que isto de ser uma empresa gerida por quem se rege pelo amor é mais permissiva, mais doce, mais fácil…não é! A nossa exigência é igual e, muitas vezes, até muito superior. Dependemos todos do nosso trabalho, dos nossos resultados e quando esses não aparecem não há futuro.
Familiar por ter na sua gestão uma família a gerir ou familiar pelo espírito de proximidade, o que importa é que as empresas com este ADN têm, dizem os estudos, muito mais possibilidade de vencer os desafios da caminhada pela resiliência e amor ao que se faz. Tal como as empresas familiares, também a minha é muito moldada pelo meu espírito de empreendedora. Quando a fundei só nos melhores sonhos ela faria a caminhada que está a fazer, mas isso é outro texto para outro dia. Hoje vale a pena ler o texto da Sara. Ela leva-vos lá.
Este encontro contou com a intervenção inicial de Paulo Portas, um momento muito interessante do ponto de vista macro económico sobre os desafios e as oportunidades que se colocam às empresas familiares na conjuntura mundial, europeia e nacional atual.
A KPMG Portugal, em parceria com a Associação das Empresas Familiares, apresentou os resultados do “Barómetro Global de Empresas Familiares 2022: “O Poder Regenerativo das Empresas Familiares”.
Podemos pensar que esta é uma realidade muito portuguesa, mas a verdade é que as empresas familiares são uma realidade presente em muitos países em todo o mundo. Num inquérito realizado em 70 países a 2.000 empresas familiares, entre setembro e novembro de 2021, são estes os dados:
- Existem quase 2.500 líderes de empresas familiares (Desde a “Geração Silenciosa” à dos “Millennials”), sendo que 44% pertencem à Geração X (1965-1980);
- Cerca de 80% dos CEO’s são do sexo masculino;
- A idade média dos colaboradores das empresas participantes situa-se nos 44 anos;
- 53% das empresas representadas dizem respeito ao setor dos serviços;
- Mais de 40% destas organizações são consideradas de pequena dimensão (menos de 50 colaboradores).
Mas, afinal, qual é a fórmula para o sucesso das empresas familiares?
Uma das principais conclusões deste estudo refere que preservar a visão do fundador e manter o interesse da família no negócio é, claramente, uma aposta ganha, mas, para isso, são necessários alguns ingredientes:
- Manter vivo o espírito empreendedor do fundador;
- O vínculo emocional da família à empresa impacta diretamente o desempenho no longo prazo e a capacidade de regeneração;
- O controlo, a influência e a identificação da família com a empresa promovem uma cultura mais orientada à inovação e às novas tecnologias;
- Influência, sentimento de pertença e reputação;
- Empresas sustentáveis, preocupadas com o meio ambiente
Pedro Siza Vieira, ex-ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, finalizou a conferência reforçando a ideia de que o estilo de liderança que prevalece no nosso país é assumidamente autoritário, o que representa uma fragilidade comparativamente com os restantes países da Europa e dos Estados Unidos na transação geracional. Por outro lado, a ligação emocional existente nestas empresas pode ajudá-las a crescer. E é o que torna, de facto, as empresas familiares especiais.
Conhecedor profundo do tecido empresarial português, partilhou ainda alguns dados como “Portugal tem 1,3 milhões de empresas, mas que a maioria são autoemprego, o que faz com que sejam umas 400 mil, mas das quais só 1300 não são PME”. Quer isto dizer que, apenas 1300 empresas têm mais de 250 trabalhadores, mais de €50 milhões de faturação e mais de €43 milhões de balanço.
O discurso do ex-ministro foi muito positivo, pois considera que o principal objetivo das empresas familiares deverá ser contribuir para melhor servir as empresas nacionais e os investidores estrangeiros que procuram o nosso país.
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