Por Cristina Amaro
Fui, orgulhosamente, embaixadora do movimento “Portugal a Meditar”. Durante estes últimos 7 dias, a Rute Caldeira criou uma onda gigante de amor dentro e fora de Portugal. Onda essa que o mundo seguramente quer que se mantenha, que começa em cada um de nós e que pode evoluir se cada um de nós assim o desejar. Hoje, que terminou esta primeira edição, senti vontade de escrever estas palavras para partilhar convosco a minha experiência desta que é uma maravilhosa viagem interior e que há muitos anos faz parte da minha vida.
Comecei a viajar dentro de mim, em busca de uma tranquilidade que não encontrava cá fora, pela mão da maravilhosa Marília Teixeira. Uma psicóloga e coach de desenvolvimento pessoal que uma depressão decorrente de um ano difícil colocou no meu caminho. Estávamos no virar do século XX. Recordo-me da primeira consulta e das primeiras palavras como se fosse hoje. Disse-me ela na altura: “eu não trabalho com pessoas que estão a tomar medicação para a depressão”. Disse-lhe que estava ali precisamente porque não queria tomar medicamentos. Não queria nenhuma dependência. Queria sim curar as feridas que estava a precisar de curar, mesmo que para isso precisasse que cada uma delas me doesse mais antes da sua cura.
Importa dizer que a minha depressão foi devidamente acompanhada por uma médica de medicina interna, por um homeopata que escolhi por opção com o acompanhamento emocional que a minha dor necessitava. Todos sabemos que cada caso é um caso e estes problemas são demasiado sérios para não serem devidamente acompanhados por quem sabe e por quem é especialista. Não podia ser de outra forma.
Feita esta ressalva, que era importante frisar, confesso que esses foram anos muito difíceis para mim. A perda nunca é fácil. Mas quando é tão grande como a que vivi e como os que mais amo viveram ao meu lado, como foi o caso da minha mãe, dói ainda mais. Eu perdi um irmão e um bebé com 2 meses e pouco de gestação, mas a minha mãe perdeu um filho de 33 anos. Foi tão duro que decidi sair da redação onde estava na altura como jornalista. O mundo onde só praticamente cabia a economia e que ocupava os meus dias ainda me estava a tornar mais infeliz. Esses dois anos que se seguiram foram, até hoje, os que mais mudanças trouxeram à minha vida simplesmente porque foram os que me permitiram começar, à séria, a busca de mim mesma. E o encontro com a pessoa que me permitiu crescer e evoluir para o que sou.
Essa depressão foi o grande momento de viragem na minha vida. Aquele em que aprendi a encontrar em mim mesma as soluções para os problemas. Aquele em que aprendi a viajar dentro de mim.
A Marília foi um anjo na minha vida. E será sempre e para sempre. A Marília nunca me deu uma resposta. Deu-me sim as ferramentas para encontrar as minhas respostas. Nunca me mostrou o caminho. Ensinou-me a perceber qual era. E por isso nunca criei dependências. Criei sim autoconhecimento que me permitiu iniciar um novo caminho.
O que vivi esta semana neste movimento “Portugal a Meditar” foi uma viagem de encontro com tudo o que aprendi nessa altura e que hoje aplico já sem me aperceber. Sempre aprendendo mais. Porque a aprendizagem é em si a própria vida. A Rute Caldeira é uma pessoa igualmente especial e maravilhosa. Tem uma energia mágica e plena de amor. E o mundo precisa disto. O mundo precisa de muita gente a acreditar no poder do amor. No poder de querer bem ao outro. Na empatia. De caminhar lado a lado. De respeito pelo próximo e de aceitar as escolhas de cada um.
Vivemos tempos muito desafiantes, mas ao mesmo tempo dias que nos convidam a estar na vida de outra forma. Que nos levam a encontrar mais e novos caminhos internos e não só externos.
É tão importante encontrarmo-nos no meio do caos. Encontrarmos o nosso silêncio no meio da confusão. Ouvirmos o som do silêncio no meio do ruído das cidades e das tecnologias. A minha viagem interior foi a melhor viagem que fiz na vida até hoje porque foi ela que me permitiu encontrar o meu próprio eu. Foi ela que me permitiu perceber quem sou, o que sinto, que caminho tenho pela frente. E é ela que quero continuar a fazer todos os dias – a minha própria viagem.
Encontrar a serenidade interior é a parte mais saborosa da vida. Seja ela qual for. É a nossa. É a minha. E isso é talvez o maior desafio diário e aquele que mais facilmente esquecemos no meio de tantas obrigações e responsabilidades. Nunca nos podemos deixar para último nem esquecermos de nós. Todos os dias temos de começar por aí. Pela nossa própria viagem. Cá dentro. E isso só precisa de cinco ou dez minutos ao acordar, em silêncio, no nosso silêncio interior. Os benefícios destas escolhas são imensos e preciosos. Mudam o nosso mundo e o mundo dos que estão à nossa volta.
“Portugal a Meditar”, o movimento que Rute Caldeira criou e gentilmente ofereceu a todos os que quiseram participar, criou uma onda de amor que deve manter-se ativa. Porque é o amor que nos move. É a paz que nos preenche. É a tranquilidade que nos mantém no caminho certo.
Foram sete dias mágicos para milhares de pessoas que se deixaram emocionar pela voz da Cuca Roseta, pelas palavras doces da Rute, pelos sons da natureza, do piano e da flauta. Pela maravilhosa Fátima Lopes, que tantas pessoas só conheciam da televisão e que agora encontram de forma surpreendente. Pelas pessoas que quiseram juntar-se acreditando que este “medicamento natural” que temos sempre disponível em nós próprios pode ajudar nos seus caminhos. E pode. Basta querermos. Basta ligarmos o botão do nosso próprio silêncio. As respostas estão todas dentro de nós. E saber encontrá-las é a maior e melhor dádiva que a vida nos pode dar.
Aproveitem ao máximo esta forma de estar na vida. Aproveitem cada viagem ao vosso próprio universo e vão ver que a melhor viagem que podem fazer na vida é a que fazemos dentro de nós. Connosco.