Por Cristina Amaro e Alexandra Delgado Figueiredo
Conheci o Manuel Faria há 15 anos. Mais ou menos quando o Imagens de Marca foi para o ar. O Manuel é uma das pessoas que admiro. Não só enquanto ser humano como enquanto profissional. Foi ele que fez o som de um genérico de há uns anos atrás do Imagens de Marca. Se já achava muito importante a identidade sonora de uma marca, nessa altura fiquei ainda mais “convencida” que ela é tão ou mais importante que a identidade visual.
Falo-vos do Manuel como meu amigo. E vocês poderão perguntar que interesse tem este texto… Mas vocês também sabem mais sobre ele do que imaginam. Querem ver?
Quando o Manuel começou a estudar estava indeciso entre o curso de engenharia eletrotécnica e a música. Mais tarde, criou uma banda com um grupo de amigos que vos é familiar certamente: os Trovante. A paixão pela música falou sempre mais alto e a engenharia acabou por ficar para segundo plano. Nos anos 80, foi convidado para fazer uma música para o Azeite Gallo. Desde aí que nunca mais parou. Como ele diz: “foi mordido pelo diabinho da publicidade”. Nessa altura, dividiu-se entre a carreira de produtor musical e a música publicitária.
Fruto da necessidade de alargar a atividade começou a estudar o lado mais estratégico e científico do som, do seu efeito profundo nas pessoas e qual a melhor forma de o utilizar. A Identidade Sonora passou a ser o seu principal foco.
O Manuel sempre me alertou para a importância do som na atividade humana. Sempre me disse: “podemos não olhar mas não podemos não ouvir”. E isto dá que pensar, ainda para mais no mundo das marcas. O som, quando adequado, emociona e fica na memória das pessoas. Quando é mal usado agride-nos e leva-nos, grande parte das vezes, à rejeição.
Pedi ao Manuel que me falasse acerca deste tema. Ele explicou. Decidi partilhar porque acho que é uma reflexão importante, que vai muito para além do mundo da publicidade. É importante que as pessoas percebam de que forma o som pode impactar as suas vidas, sem elas, na maior parte dos casos, darem conta.
As marcas são diferentes entre si. E “marca” vem do verbo marcar. Por essa razão, as marcas têm de saber o que é que as distingue das restantes: os valores, a visão, a personalidade, o target. Sem essa distinção não há identidade sonora que nos valha. Esta análise permite-nos perceber de que forma é que a marca tem de se mostrar aos seus possíveis consumidores. Quando o som que uma marca usa está em sintonia com todos estes parâmetros o poder de comunicação desta marca decuplica.
“Hoje não se pensa um anúncio como uma pérola que nos enche de orgulho. Os custos tomam conta do raciocínio e o tempo de execução parece uma piada. Há casos de marcas que compram músicas internacionais para colocar por baixo de um tapete de locução inútil que fica retido na memória de ninguém e impede os espectadores de desfrutar do investimento feito”, explicou-me o Manuel.
É um facto: o grau de atenção das pessoas já não é o mesmo. Ninguém observa nem escuta um bloco publicitário. Todos somos impactados de uma forma muito leve e, quando a publicidade é pesada, esquecemo-nos de imediato…nem queremos ver. Por isso, uma marca que não comunique de uma forma consistente e coerente pode mesmo passar despercebida. E não é isso que queremos, certo? É importante não esquecer esta ideia que o Manuel salienta: “O som está ligado à emoção, enquanto que a imagem está ligada à razão. O ouvido sente, a visão analisa”.
Mais: uma música não se escolhe com base no gosto pessoal e na intuição dos criativos ou realizadores. Uma música tem de refletir a personalidade e os valores da marca para que, de facto, possa ser diferenciadora.
É por isto que gosto do Manuel. Faz-me pensar. Faz-me questionar sobre coisas que eu própria a dada altura desvalorizei. Manuel, vemo-nos em breve!