Quando um filho perde o pai ou a mãe, torna-se órfão. Mas quando uma mãe e um pai perdem um filho, não há expressão que o defina, pois não existem palavras que consigam representar a dimensão dessa dor. É como se a vida entrasse em falência e tudo, mas mesmo tudo, perdesse o seu valor.
Assumo não ser a melhor pessoa para falar sobre isto. Tenho filhos e sou grato todos os dias por os ter comigo e bem. Mas há sempre o medo de que algo possa acontecer-lhes. Não faço a mais pequena ideia se alguma vez estaria apto para suportar a dor da sua perda. Só o simples facto de estar a escrever sobre este tema já me provoca um grande desconforto.
Mas como pai, sinto-me à vontade para partilhar convosco os meus sentimentos acerca desta questão. Preocupa-me o estado das coisas, mais especificamente o modo como os pais expressam o amor aos seus filhos. Se, por um lado, existe a máxima de que tudo é permitido, por outro, há o ângulo morto da parentalidade. O lado negro de um amor que se revela pela estranheza, pela ausência e pela incapacidade de dizer “amo-te, filho”.
Não perdemos um filho só quando ele morre. Perdemos um filho quando não demonstramos o quanto o amamos. Na sua verdadeira essência. No colo, no abraço, na escuta ativa, no dizer “não” quando é crucial, no afirmar “sim” quando é importante, em fazer-lhe ver as várias hipóteses de uma situação, na ousadia de o deixar cair se o que ganhar com isso tornará a sua vida mais rica e ágil. Ser pai ou ser mãe não é ser o epicentro dos seus filhos. Ser pai ou ser mãe é permitir que o seu filho seja o centro de si mesmo de forma consciente.
Um pássaro não voa só porque tem asas. Um pássaro voa porque nasceu para voar. Tal como os pássaros, os filhos nasceram para amar, construir, seguir em frente. Voar. Com respeito, amor, opinião, criatividade, humanidade.
Acho estranho a quantidade de pais que não demonstra, de forma saudável, o amor pelos seus filhos. Considero mesmo um ato contranatura. Mais dificilmente um filho amará alguém se, em primeira mão, não receber amor dos pais. O amor-próprio aprende-se. Não nasce connosco. Mais árdua será a sua vida se os seus pontos de referência forem de fracasso, violência e egoísmo.
A primeira vez que senti o que pode sentir um pai e uma mãe quando perdem um filho foi ao ler “A Cabana”, de William P. Young. Um livro que, embora me prendesse do princípio ao fim, me trouxe um dos maiores medos que tenho: o de perder um filho.
Nesta história, um pai perde a sua filha de uma forma cruel. Tudo muda na sua vida após esse episódio. Embora o livro dê uma perspetiva de como a personagem pode lidar com essa situação, a verdade é que perder um filho acaba por ser um ato de sabotagem da própria vida. Contudo, nada está realmente garantido. E o que nos compete é amar os nossos filhos de verdade todos os dias.
Se tem filhos, ame-os sem fim. Demonstre todos os dias isso mesmo. Brinque com eles, telefone-lhes, dê-lhes atenção e tempo, perdoe-lhes, diga-lhes que os ama, abrace-os, oriente-os, deixe-os errar quando necessário, esteja presente. Mas, acima de tudo, respeite as suas decisões e a sua identidade. A sua forma de receber e dar amor.
O amor verdadeiro não acaba quando um filho segue o seu caminho ou mesmo quando discutem. Quando o amor é verdadeiro, esse amor transforma-se em algo maior. Numa força incalculável que ajudará a Humanidade a dar o seu melhor.
Desejo-lhe bons momentos de amor em família.
Boas leituras.