Cristina Amaro
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Passamos invisíveis numa sociedade impaciente

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As pessoas

Passamos invisíveis numa sociedade impaciente

Passeamos invisíveis numa sociedade impaciente

Por César Ferreira

Vivemos numa sociedade que anda mais com os olhos no chão do que nas estrelas. Adquirimos várias formas de ver e de interagir com os outros, mas, a meu ver, nunca estivemos tão desencontrados uns dos outros. Perdemos algures o que nos torna visíveis. Não é que não vejamos, mas não reparamos no outro. E isto faz-nos perder a especificidade que tanto nos caracteriza.

A inquietude dos dias, os encontrões numa rua movimentada, o trânsito caótico podem ser consideradas fontes de ansiedade, ou, então, são apenas oportunidades para parar, pensar e, quem sabe, talvez ponderar acerca de uma nova espécie de solidão. A solidão pela invisibilidade.

Nunca estivemos tão ligados. A tecnologia, por exemplo, permite a cada um de nós ligar-se a qualquer pessoa a qualquer momento. No entanto, o conforto da conexão demora a surgir. E por entre uma sociedade impaciente passeamos invisíveis. Flutuamos sobre um chão que nos incute uma certa cegueira.

À medida que escrevo este texto lembro-me de todos aqueles e de todas as coisas que, aos nossos olhos, passam despercebidos. Como os sem-abrigo, um idoso a atravessar uma rua movimentada em dificuldades, um animal ferido na estrada, um plástico no chão mesmo ao lado da reciclagem. Devíamos ser mais humildes e corajosos. Talvez o superpoder dos dias de hoje seja mesmo o da visibilidade. Aquele poder que transforma pessoas ocultas em pessoas visíveis.

José Saramago, no livro “O ensaio sobre a cegueira”, tem uma frase que expressa muito bem esta questão: “se podes olhar, vê. Se podes ver repara” (Livro dos Conselhos).

Passeamos invisíveis numa sociedade impaciente

É da nossa responsabilidade não permitir que o Mundo se esvaia para o buraco negro da inexistência. É nosso, só nosso, o dever de tornar o Mundo visível.

A sociedade exige. É impaciente. Reclama uma velocidade, possivelmente, sobre-humana. Mas tendemos a continuar ao seu ritmo, feitos soldados a marchar ao som dos tambores. Contudo, nós somos essa sociedade de que tanto nos queixamos. A impaciência é somente uma consequência, um efeito de sermos invisivelmente visíveis.

A magia já não está em fazer desaparecer, mas em aparecer. Por isso, peço-te (e isto é mesmo um pedido pessoal) que apareças e que ajudes os outros a aparecer. Vamos dar voz, corpo e sentido às pessoas e às coisas. Vamos tornar tudo isto um pouco mais apetecível e caloroso.

Porque acredito que vivemos numa espécie de cegueira, não podia deixar de sugerir a leitura do livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago. Uma obra intemporal e que tem a capacidade de abrir os olhos a quem a lê.

Desejo-lhe momentos inspiradores.

Boas Leituras,

César Ferreira

César Ferreira

Mentor de Autor, Mentor para a Aprendizagem, Biblioterapeuta

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