Quantas vezes desejamos que um anjo desça dos céus para nos salvar? Quantas, mas quantas vezes, desejamos ardentemente que um anjo apareça vindo do nada para nos abraçar, que nos dê colo e nos diga, passo a passo, o que fazer?
A natureza humana vive entre uma espécie de misticismo, em que solicitamos uma intervenção divina na nossa vida, e uma vontade de possuir pessoas, coisas e momentos. Vivemos entre a conexão e a desconexão. Entre o mistério de uma força invisível e o ato de lutar por uma vida melhor no mundo comum.
Tudo começa e acaba nas pessoas. Esta tem sido para mim uma das máximas de vida. Não há nada na vida que isente as pessoas de responsabilidade, participação e colaboração. Tudo o que existe além delas é algo, arrisco dizer, que não conhecemos verdadeiramente. É preciso quem veja, quem sinta e quem faça. E embora a Natureza e a divindade cumpram o seu propósito, a verdade é que ambas necessitam de pessoas para o realizar.
O que acontece quando esperamos que um anjo desça dos céus?
Pouca coisa, dado que o que queremos é quem faça o trabalho por nós. De preferência, alguém que não nos cobre. E um anjo vindo lá de cima vem mesmo a calhar. Não procure lá em cima o que tem cá em baixo.
Deve estar a pensar que só acredito no que consigo ver. Não, de todo. Acredito, tenho fé e sei perfeitamente que existem coisas para as quais não temos explicação e que, à sua medida, são ainda superiores à nossa capacidade de compreensão. Falo com Deus todos os dias. Peço-lhe orientação e ajuda. Mas também sei que Deus se expressa em cada um de nós para que façamos qualquer coisa com a divindade com que nos brindou. Afinal, todos os dias os anjos estão entre nós, mostrando-se das mais variadas formas.
Um anjo não é alguém ou alguma coisa que nos salva. Um anjo é alguém ou alguma coisa que nos ajuda a ter uma perspetiva acerca de nós próprios no mundo. Com um anjo, aprendemos a libertar-nos.
Um anjo pode assumir a forma e o conteúdo de um livro.
Um anjo pode ser aquela pessoa que me diz a verdade mesmo que me magoe.
Um anjo pode ser aquela paisagem que me prende a respiração.
Um anjo pode ser aquela voz que me acorda à noite chamando por mim.
Um anjo pode ser tantas e muitas outras coisas. Todas com uma mensagem e uma aprendizagem muito fortes.
Para mim as asas de um anjo são páginas de livros.
Os livros, os bons livros, trazem mais do que conhecimento. Trazem experiência e um despertador de partes de nós.
Em vez de esperar que um anjo venha do céu para que algo de bom aconteça na sua vida, vá a uma biblioteca. Na verdade, uma biblioteca é também a casa dos anjos.
Por vezes, tenho dificuldade em explicar de que forma os livros mudam a vida das pessoas. Naturalmente surge a dúvida, pois as palavras teimam em não sair como as sinto. Mas é nesse momento que vem de dentro uma força interior tão grande, que só posso estar certo. Se subtraísse de mim os livros que li durante toda a minha vida, não estaria a partilhar este texto consigo. Estaria certamente num patamar físico, mental e emocional bem diferente, em que seria incapaz de reclamar o meu lugar no mundo como o faço atualmente.
Se abraço os livros como abraço quem amo, é certamente o sinal de uma grandeza sem igual. De uma grandeza sem limites que, mesmo não a vendo, sempre me acompanhou.
Os livros ajudam-no(a) a prever o futuro. O que lê agora está a trilhar o seu caminho. Se quer mesmo saber como será o seu futuro, olhe para a sua biblioteca.
Através de um livro, pode conhecer o que nunca terá tempo para visitar.
Através de um livro, pode despertar em si a grandeza.
Através de um livro, pode encontrar um rumo para a sua vida.
Através de um livro, pode ser o herói ou a heroína da sua vida.
Através de um livro, pode amar e tocar quem já partiu.
Através de um livro, pode curar o que o fere.
Através de um livro, pode viver uma experiência espiritual.
Através de um livro, pode viajar nas asas de um anjo.
Os anjos vivem na terra. Na terra das pessoas, mas também na terra dos livros. Num mundo tão repleto de experiências, que aguarda a nossa intervenção.
Um anjo não salva. Um anjo desperta.
Um anjo não resolve. Um anjo liberta.
Um anjo não julga. Um anjo vira a página para que a leitura continue.
Para reencontrar o seu anjo interior, vou sugerir-lhe duas leituras. São dois livros que muito me tocaram e me fizeram entender que um anjo pode assumir qualquer forma, desde que estejamos atentos e abertos à sua magnitude.
“Anjos nos Meus Cabelos”, de Lorna Byrne. Um livro poderoso que o pode pô-lo(a) em contacto com os anjos. Há coisas que tentamos não ver. Contudo, a vida ensina-nos que há algo que pode estar a escapar-nos. Esta sinceridade pode ser o ponto de partida para uma descoberta maravilhosa.
“O Livreiro de Paris”, de Nina George. Uma leitura surpreendente que nos transporta para a eficácia dos livros e da leitura na vida das pessoas. Imagine-se a entrar numa “farmácia literária” e a ter à sua disposição o livro ideal para o desafio que tem de momento. Isto seria fantástico, não concorda comigo? É o que pode acontecer quando vamos a uma biblioteca ou a uma livraria e estamos perante o “farmacêutico” certo.
Espero que estas leituras o(a) ajudem a sentir que tudo está ao seu alcance para uma vida feliz, aqui e em qualquer sítio.
Se um anjo bater à sua porta, deixe-o entrar e aceite o que tem para lhe ensinar.
Pode ser o livro da sua vida.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas leituras.