Cristina Amaro
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Onde estará quem parte?

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A vida

Onde estará quem parte?

Onde estará quem parte?

Por Cristina Amaro

Pensei muito no meu pai estes últimos dias. Onde estará ele? Como estará ele? A despedida do meu querido amigo Comendador Rui Nabeiro mexeu com todas as minhas emoções. As que estão vivas e as que estavam guardadas. E fez-me voltar atrás no tempo. Ao tempo em que o meu pai partiu.

Faria 92 anos no dia do velório do Sr. Rui. Tinham exatamente uma semana de diferença de vida. Ambos nasceram em Março de 1931. O meu pai a 20 e o Comendador a 28. 

Faziam ambos 92. Faziam ambos parte da minha vida. E ambos sabiam disso. Sempre disse ao Sr. Rui como ele era acarinhado pela minha família e que os dois eram próximos na idade. Hoje vejo-me sorrir quando penso nas conversas que a vida me deixa de memória por estes momentos. A sua simplicidade gostava de saber destas coisas simples.

Dei comigo algumas vezes estes últimos dias a perguntar porque me estava a custar tanto a perda do Sr. Rui. Fez-me lembrar a dor da perda do meu pai, em 2015, quando também em poucos dias o vi ir embora. Inesperadamente.

Natural esse sentimento sendo a morte do meu pai. Mas continuo a pensar. Porque fica um vazio de novo agora com o falecimento do Sr. Rui? Concluo que para mim era mais do que amigo. Era, de alguma forma, um bocadinho a figura do meu pai por esta proximidade de gerações e de um avô que nunca conheci. Era, sem sombra de dúvida, uma pessoa muito especial. Era, como disse o seu neto Ivan na missa de despedida, um pouco avô de todos nós também. Meu era, seguramente.

Ser amigo, amigo de verdade, também é isto. Sentir a dor da perda tal como se sentia a felicidade da presença. E quando um amigo de verdade parte fica uma parte sem preenchimento.

Hoje agradeci aos dois tudo o que me deram. A olhar para o céu, durante o pequeno almoço. Preciso de sentir que ali estão. Agradeci o que ambos me deram.

O meu pai, pelas dificuldades da vida, ofereceu-me resiliência. O Sr. Rui, pela sensibilidade rara, ofereceu-me a coragem de falar de amor em público. Sem receios de ser acusada de ser “lamechas”. Ele era amor. Em estado puro e a prova de que amor vai muito mais para além de uma relação física entre duas pessoas. Foi isso que toda a vida deu a tanta gente. 

O meu pai fez parte de uma geração que via o amor como uma fraqueza dos homens. Tinham de ser fortes e duros. Mas nesta mesma geração houve um homem que mostrou ser possível o contrário. A sua sensibilidade e humanidade não fez dele uma pessoa mais fraca. Pelo contrário. Muito mais forte.

Quem parte nunca parte de nós. Estejam eles onde estiverem tenho a certeza de que estão no meu coração. 

Obrigada, Pai. Obrigada, Sr Rui. 

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