Por César Ferreira
O dia estava cinzento e o frio teimava em encontrar, por entre as fibras do pijama, espaços por onde entrar. Com a pele arrepiada e ainda sonolento, levantei-me da cama e dirigi-me para a sala para dar o bom dia à minha mãe. Esperava receber aquele abraço e aquele beijo que me fariam aquecer em apenas alguns segundos. Mas nesse dia ela não estava, nem podia estar. E só me apercebi disso assim que tive a consciência de que já tinha partido.
Sentei-me no sofá de vime que tínhamos na sala, lugar este de grandes conversas e confissões entre mãe e filho, e limpei as remelas que restavam de um acordar fora de tempo. Não me lembro se chorei ou equacionei, mais uma vez, a razão de o cancro ter vencido a batalha e de eu agora sentir um silêncio físico de mãe.
Mas recordei-me de um dia, tão frio quanto este, em que a encontrei segurando na mão uma chávena com leite quente e fazendo-se acompanhar de um bigode comicamente feito com o leite. Lembra-me de termos rido tanto por causa desse humilde bigode. O frio depressa desapareceu e o beijo que recebi trouxe consigo um calor inigualável.
Ainda hoje me sinto feliz ao lembrar-me desse episódio. E a este recorro quando sinto saudades da minha mãe e quando necessito de descontrair para fazer face a uma dificuldade.
Não me lembro de ter falado com a minha mãe sobre o que é a felicidade. Éramos felizes e isso bastava. Raramente equacionamos algo quando estamos a viver esse algo. Talvez devêssemos experienciar mais do que questionar. Por vezes andamos às voltas com questões quando, na verdade, não nos é proveitoso.
Do muito que aprendi com a minha mãe há duas coisas que, para mim, valem ouro: há perguntas para as quais não nos será vantajoso obter resposta; e há perguntas que não têm resposta.
Talvez tudo seja mais simples do que parece. Talvez a nossa obsessão em procurar uma resposta para tudo reside no facto de não nos querermos sentir vulneráveis face à experiência do que está à nossa frente. Procuramos a razão que nos faz felizes e deixamos escapar os momentos que nos tornam felizes.
Carlos Drummond de Andrade afirmava que “ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade”. Com entrega, disponibilidade e aceitação considero que nos tornamos mais leves e abertos à felicidade.
A constante busca é importante, pois permite-nos descobrir o que, à partida, é incompreensível. O espírito de descoberta cultiva na Humanidade o seu crescimento e a sua expansão. E todos nós beneficiamos disso. Mas cada cume atingido deve ser vivido e experienciado. Há alturas em que precisamos desacelerar a nossa procura para dar lugar ao usufruir. Tanto um como outro são importantes.
Não sei o que é a felicidade. Sinceramente não sei mesmo, nem vou iniciar qualquer jornada para tentar encontrar a resposta para tal questão. Para mim, ser feliz é estar feliz na maior parte dos momentos da minha vida. É encontrar no muito e no pouco algo que me faça rir, estar em paz e simplesmente apreciar.
Todos possuímos histórias que nos fazem rir e descontrair. Pequenas experiências que, pela sua simplicidade, têm o poder de elevar o nosso estado. São essas histórias que devemos sempre trazer connosco.
Há muitos livros sobre a felicidade. Muitos mesmo! Contudo, vou sugerir-lhe um dos mais belos livros sobre o tema.
Trata-se do livro “Selma” de Jutta Bauer. Uma leitura que se faz em apenas alguns minutos e que nos brinda com a resposta da ovelha Selma à questão “o que é a felicidade?”. Prepare-se para a simplicidade e pureza que irá encontrar.
Que em cada momento encontre a felicidade de cada momento.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas Leituras,
César Ferreira
Mentor para a Aprendizagem, Mentor de Autor e Biblioterapeuta