Por Alexandra Delgado Figueiredo, Social Media Manager, LUVIN
Há assuntos duros. Este é um deles. A velhice.
Envelhecer, segundo a ordem natural da vida, é das poucas coisas que temos como garantidas. Quando vemos os nossos familiares ou amigos mais próximos a envelhecer esquecemo-nos de que há coisas que se vão passar inevitavelmente, como é o caso da perda de memória, de força, de vitalidade. Temos sempre tendência para achar que continuam iguais ou que “até estão bastante bem para a idade”. É uma proteção nossa esta coisa de acharmos que a velhice só acontece na porta ao lado.
Saber lidar com a velhice é provavelmente das coisas mais difíceis da vida do ser humano. Para quem envelhece e para quem vê envelhecer. É preciso paciência para saber lidar. Muitas vezes, coragem para vermos a degradação diária de quem amamos. Tolerância porque não podemos esperar que sejam os velhos a tornar-se tolerantes. Temos de ser nós a praticar a tolerância, o respeito, o amor…
Não é fácil. Chega mesmo a ser angustiante. Não é bonita a velhice. Perdoem-me a franqueza. Não é para ninguém. Por mais bonita que seja a história que se viveu, a velhice é esmagadoramente dolorosa. Duvido que alguém esteja preparado para envelhecer, por mais que nos tenham dito a vida inteira que isso um dia ia acontecer.
Ser cuidador é ver a velhice de perto. Todos os dias. À mesma mesa. Quando decidimos ser cuidadores de um familiar acho que não sabemos para o que vamos. Queremos só ajudar. Poder proporcionar o melhor que houver àquela pessoa. O que ninguém nos disse é que este ato de amor às vezes podia doer tanto. E há poucas coisas neste mundo mais difíceis do que vermos as pessoas que mais amamos partirem aos poucos. Ao nosso lado.
Já viram que nunca tratamos os velhos como pessoas normais? Já viram que cada vez que falamos com eles falamos mais alto e mais devagar? Quase como se não falassem a mesma língua que nós. Já viram que cada vez que eles partilham uma opinião diferente da nossa dizemos “coitada(o). Já não sabe o que diz”? Já viram que tratamos os velhos como pessoas à parte do mundo, ou porque são chatos ou porque falam sobre assuntos aborrecidos? Acham mesmo que alguém quer ser velho sabendo, à partida, que os outros não vão ter paciência? Não. Ninguém quer ser tratado de maneira diferente. Ninguém quer ser um fardo. Ninguém quer ser chato. Ninguém quer ser velho. Pelo menos nestas condições. Garanto-vos.
É urgente olharmos para os velhos com mais respeito. Sem os descredibilizarmos só porque demoram mais tempo a pensar, a atravessar a rua ou a expressar uma ideia. Quando estamos cansados depois de um dia de trabalho esgotante também não bloqueamos? Então imaginem depois de viverem uma vida inteira de alegrias, tristezas, dias bons e dias maus. Imaginem. Imaginem só. Talvez não consigam. Quanto mais ficam com uma pequena noção. Mas talvez um dia, daqui a alguns anos, quando alguém vos disser que já não estão bons da cabeça se lembrem desta frase: “ninguém quer ser velho”.