Por Cristina Amaro
À hora que escrevo este texto estou sentada no hotel à espera que chegue o transfer para o aeroporto.
Os meus colegas da informação diária não têm parado desde manhã e o frenesim sente-se nos corredores, devido às notícias que têm saído sobre a fábrica que fechou esta semana e deixou mais de 150 pessoas sem emprego. Estas, que agora deixam a Eureka, juntam-se às que na véspera de Natal já tinham também saído da Helsar e de outras duas no início do ano.
São momentos difíceis. Para todos. Para quem escreve. Para quem despede. Para quem perde o seu emprego. Para quem representa o setor. E por isso estes temas merecem todo o meu /nosso respeito.
Sou jornalista mas também sou empresária. Sei o que custa e quanto custa ter um negócio que obriga a ser sustentável para ser responsável. Mas também sei o que custa perder o emprego. Por isso, falo de respeito. Por quem fica sem trabalho e também por quem precisa de mudar o rumo às empresas.
Por vezes é preciso parar. Parar para pensar. Para ponderar. Para analisar. Para fazer o que há para fazer, com calma. Parar para não cometer erros.
Fala-se por aqui, em Itália, desde o primeiro dia, das dificuldades do setor. Desde as primeiras entrevistas que a realidade é partilhada em todas as conversas. De forma aberta. Clara. Transparente. Não havia previsão de mais um encerramento da forma como aconteceu mas a realidade nunca deixou de ser partilhada. Soubemos logo à chegada que o mercado estava diferente.
A transformação da sociedade em que vivemos está a provocar dores em muitas áreas. As alterações de consumo são imensas e as mudanças de comportamento do consumidor implicam alterações na indústria. É inevitável.
Nos corredores da MICAM, onde estive com uma equipa de reportagem do Imagens de Marca a gravar a emissão do próximo fim de semana, falou-se de alterações de consumo por parte de um consumidor que hoje prefere comprar nas lojas digitais. E falou-se também de sustentabilidade e de calçado vegan. De tendências e de taxas de alfândega que dificultam as exportações, das milhares de lojas multimarca que têm fechado e deixado sem montra as outras tantas milhares de que delas precisavam para continuar a vender. Falou-se, muitas vezes, de dificuldades mas também se falou de esperança. Da capacidade de quem trabalha no setor tem tido para vencer as barreiras que se atravessam num caminho cheio de pedras. E também se falou muito na resiliência que os empresários e as pessoas que trabalham na indústria têm de ter.
É preciso respeitar. E parar para pensar numa realidade que vai continuar a provocar dores. Em muitas áreas. Em muitos setores. É inevitável.
Desta feira o que levamos não são histórias cor de rosa mas também não têm somente tons cinza. Nem tudo é preto. Nem tudo é branco. Levamos uma realidade que se pode aplicar a muitos outros setores: as mudanças que se sentem no mercado estão a obrigar as empresas a adaptarem-se aos novos tempos. E as pessoas têm também de estar preparadas para isso. Todos nós. Quem emprega e quem é empregado.
Na SIC Notícias, este fim de semana, o Imagens de Marca vai falar da MICAM mas não vai falar das notícias que têm enchido os jornais. O IM trouxe na bagagem para Itália perguntas que queria fazer aos empresários do calçado de luxo. E as respostas que leva de volta para Portugal são essencialmente sobre esse segmento, uma vez que a nossa reportagem será inserida nesse espaço. E felizmente que temos ângulos com visões diferentes e casos inspiradores. Apesar das dificuldades, Portugal tem feito um caminho de crescimento no setor. E para se manter nele vai ter, mais uma vez, de se reinventar. A indústria do calçado “vê-se a braços” com novas realidades e novos tempos que com eles trazem novas exigências.
Felizmente que nós podemos por na nossa bagagem outras abordagens e outras realidades que não nos apertam tanto o coração. Levamos, como sempre, dicas, conselhos e inspiração para que quem precise dela a possa usar para empoderar as suas marcas e as suas empresas.