Cristina Amaro
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Fomos feitos um para o OUTRO?

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A vida

Fomos feitos um para o OUTRO?

A irreverência do amor coloca-nos em estados dúbios. Ora sentimos que amamos alguém e fazemos de tudo para isso provar, ora sai-nos da boca “não fomos feitos um para o outro”.

As relações em que nos envolvemos dizem muito acerca da forma como pensamos, sentimos e agimos. Vemos nos outros o que nos faz bem, mas também as nossas fragilidades. Como se tudo estivesse em jogo, lançamos os dados em alguém que preenche os nossos pré-requisitos, quando o que mais ambicionamos é não sentir a solidão que sempre nos espia.

Fala-se muito de amor, mas também de paixão e dos modos criativos de demonstração de carinho e de preocupação para com o outro. Consumimos uma chama que nos coloca num estado de embriaguez divina. Há até um momento em que juramos a pés juntos que tudo será para sempre. Casamo-nos, erguemos uma família, aceitamos aquilo de que gostamos e aquilo de que não gostamos. Fazemos de conta que somos transparentes e que continuamos genuínos.

Nada é permanente. Tudo está em movimento. E um dos grandes erros que cometemos é pensarmos que o que sentimos será eterno da mesma maneira. Mas as pessoas mudam. Descobrem coisas diferentes durante o caminho da vida. O amor é, a meu ver, o tira-teimas das relações.

O amor verdadeiro é visionário, pois equaciona todas as alterações na vida de duas pessoas. Ele transforma-se em cumplicidade e é a partir desta que várias relações vão evoluindo e tornando-se firmes. Tal qual uma dança, o amor marca o passo na vida de quem o compreende, o respeita e o aceita.

Mas também há os casos em que, à mínima desilusão, tudo acaba, mesmo antes de atingir a consistência. Será que, nestes casos, não houve amor? Que foi um passo em falso? O acordar de um sonho em que tudo era tão bonito?

A beleza do amor é que este é um estado de aceitação pleno. Não das feridas que nos infligem, mas de uma comunicação invisível que vai além do aparente. Que acolhe as diferenças, crescendo com estas.

Não é suficiente olhar nos olhos de alguém e prometer-lhe amor para sempre. A meu ver, é essencial “escutar com os olhos e ver com os ouvidos”. É compreender que um grande amor traz consigo grandes desafios e batalhas. É ir para uma relação com o sentido de dar e não apenas de receber.

Amar é fazer o encontro de mapas das pessoas envolvidas na relação. Quando nos tornamos cúmplices, não permitimos tudo, mas estamos aptos a equilibrar o que podemos dar com o que desejamos receber. A entender a imperfeição como algo de belo.

Viver em amor e viver o amor talvez sejam situações diferentes. Mesmo assim, arrisco dizer que antes de viver qualquer amor com outro, preciso de me amar. De ser cúmplice e fiel à minha natureza.

Procurar alguém que me complete é o mesmo que procurar uma parte de mim que não conheço. Na verdade, todos precisamos de alguém ao nosso lado que nos expanda e não que nos complete.

Há muita bibliografia sobre a temática do amor e das relações. Porém, e por considerar que a questão da aceitação é crucial para percebemos o amor, principalmente o amor-próprio, vou sugerir a leitura de “A Imperfeição é uma Virtude”, de Brené Brown.

Neste livro irá encontrar muita informação que o(a) fará aceitar-se e viver-se a um nível mais consciente e genuíno. E isto é viver em amor.

Desejo-lhe momentos inspiradores.

Boas leituras,

César Ferreira
Biblioterapeuta e reading coach

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