Nesta Páscoa, parto para o Brasil. Parece incrível, mas vai ser a primeira vez que viajo para Terras de Vera Cruz, e ainda a tempo de celebrar, a 22 de abril, a descoberta deste extenso território, por Pedro Álvares Cabral. Desde os meus tempos de escola e das aulas de História que sonho conhecer de perto a História do Brasil, mas, talvez porque o Brasil sempre tenha sido o destino óbvio e natural, sempre o deixei para o fim da lista. Este ano, contudo, a 1 de janeiro, simbolicamente, reservei a viagem, e pronto, é desta!
Preparar a viagem exigiu um périplo pelos melhores produtos/marcas portugueses para levar de presente, bem como para responder a uma extensa lista de pedidos, de quem conhece bem o País e está habituado ao melhor. Vou, literalmente, com as malas a abarrotar para satisfazer todos os pedidos, mas com o coração cheio por poder partilhar um pouco do que melhor se faz em Portugal. Este périplo pelas lojas, pelos sites e pelos ateliers e o exercício de pensar no que gostaria de levar e no que nos define e define a nossa excelência revelou-se muito enriquecedor e eu própria aprendi no processo.
Um valor seguro, pensei eu, seria oferecer peças para a casa. Uma fórmula “2 em 1”, em se agracia com um só presente toda a família e com menos margem de erro, naquilo que são os gostos pessoais. Assim, uma escolha incontornável foi a porcelana Vista Alegre, as maravilhosas peças da Bordallo, as mantas Burel e os atoalhados Teresa Alecrim.
Eleger a Vista Alegre tem sempre a vantagem de se optar por uma marca conhecida, desejada e muito reputada. Mas o mais aliciante e que pesou na minha escolha foi a coleção Transatlântica, desenvolvida por um dos mais reputados designers brasileiros da atualidade, Brunno Jahara, que recria os laços que unem Brasil e Portugal. “Uma coleção que atravessa o grandioso Atlântico para evidenciar a união de sangue entre dois mundos, numa original interpretação multicultural.” E era justamente essa ligação que eu queria celebrar entre dois países e duas famílias com grandes laços de afeto. Uma família de amigos brasileiros que consideramos nossa e a cujos filhos, exatamente com a idade da minha filha, chamo carinhosamente sobrinhos. Que melhor história poderia encontrar?…
Bordallo é sempre um prazer para os sentidos, de quem escolhe e seguramente de quem recebe. Por mim, teria trazido a loja toda. É a história de um legado extraordinário, que em boa hora foi preservado e potenciado pelo grupo Vista Alegre, o qual acaba, inclusivamente, de inaugurar o primeiro espaço da marca em Paris. O mundo naturalista e fantástico de Bordallo não deixa ninguém indiferente e traz cor, fantasia e humor à mesa. É, sem dúvida, uma das marcas mais diferenciadoras naquilo que é a expressão da nossa identidade coletiva.
A Burel é outro exemplo de uma marca portuguesa muito especial que tem tido o mérito de preservar uma arte antiga, através de um design contemporâneo, inserindo assim, eximiamente, a tradição na modernidade. Uma fórmula-exemplo que tantas outras marcas portuguesas deveriam seguir: ser revisitadas com ambição, reinventadas, atualizadas, definidas por uma identidade gráfica moderna e com pontos de venda onde possam expressar-se. Só pediria que os extraordinários padrões das mantas Burel, esteticamente irrepreensíveis, pudessem declinar-se em materiais mais suaves, para uso pessoal. Ficaria duplamente feliz!
Por fim, gostaria de referir a marca Teresa Alecrim, cuja existência muito discreta sempre pautou pela sobriedade e pela elegância, e resultou da visão da “Sra. Dona Teresa” (Carrusca), como é carinhosa e reverentemente apelidada e que infelizmente partiu no ano passado. A fundadora deixou, contudo, um estilo e inúmeros desenhos que hoje alegram casas do mais tradicional ao mais moderno. Para mim, é sempre uma opção de oferta. Um valor seguro. E foi na loja Teresa Alecrim do Amoreiras que me demorei à conversa com uma simpática colaboradora da marca que aí trabalha há mais de 20 anos. Curiosamente, o meu discurso empolgado acerca de crescimento e potencialidade da marca (que adoro!), abertura de mais pontos de venda, internacionalização, aumento dos preços… parece ter chocado com aquela que é a essência da Teresa Alecrim. Uma marca de família, controlada, intemporal, rentável e sem ambições de se tornar mais consequente. Crescer?… Para onde e porquê?!… Para sair fora de pé?… A marca já serve o mundo inteiro, que a trata como um segredo bem guardado. Até os Rolling Stones, quando estiveram em Portugal e necessitaram de tolhas turcas de boa qualidade, não tiveram dúvidas sobre onde se dirigirem. Aumentar preços? Porquê?!… Os que praticam são justos e servem a rentabilidade da marca. Ainda assim, fiquei com pena, a minha alma de gestora e apaixonada por elevar a excelência portuguesa disse-me que poderia haver um meio-termo. Ficou agendado um café para um destes dias. Por agora, levo panos de cozinha que contam histórias em ponto cruz, lençóis bordados, individuais com bainhas abertas, sacos do pão… Tudo divinamente ataviado com belíssimas fitas de seda.
E para não alongar mais este texto, voltarei ao tema mais tarde. Fica, no entanto, a reflexão: Que mais podemos fazer pelas nossas marcas de excelência? É uma obrigação nossa levá-las mais longe, como a Bordallo? Ou deixá-las como segredos bem guardados, como é o caso da Teresa Alecrim?…
Boa Páscoa e boas compras, portuguesas, com certeza!