Por Cristina Amaro
Sem palavras. É assim que a vida me tem colocado, muitas vezes, nos últimos tempos. Sem palavras e em silêncio! O texto que hoje vos trago é longo. Profundo. Intenso. E por isso é para ler devagar…porque na verdade todos temos problemas. E a todos nós o coração se parte de vez em quando…
Tamanhas são as exigências da vida para algumas pessoas. Tamanhas são algumas histórias para mim também. Tamanhas são as circunstâncias repentinas relacionadas com a saúde. Tamanhas são as voltas que a vida dá, sem esperarmos. Tamanha é a facilidade com que a vida nos foge entre os dedos…
É frequente ouvirmos falar que esta ou aquela pessoa teve um problema. De quando em vez sabemos que um amigo partiu repentinamente ou fruto de alguma doença prolongada. Muitas vezes aquela que seguramente todos mais tememos e nem gostamos de a nomear.
São momentos tristes, que lamentamos, naturalmente. Que sentimos, naturalmente. Que nos fazem ficar tristes, também. Mas a nossa vida continua. Difícil, à séria, é quando essa pessoa é alguém próxima de nós, com quem temos uma história na nossa vida. Nesses momentos o chão foge-nos. O sangue estanca. A cabeça bloqueia. O Coração aperta…e sim, surge o silêncio. Ficamos sem palavras. Ficamos com o coração aos pedaços.
A quantos de nós já isto aconteceu?
Hoje, quando fui fazer tratamento de fisioterapia (sim, os últimos tempos têm deixado mossa…), em conversa com a minha terapeuta, ela partilhou um problema familiar daqueles que nos deixa aterradas na marquesa. Não vou entrar em pormenores, como é natural, digo apenas que é uma história triste de uma mulher a quem foi diagnosticado um cancro de mama aos 42 anos.
Sim, é verdade que infelizmente não é caso único. Há tantos mais! Esta história tocou-me porque a este problema soma-se uma história de vida à qual é impossível ficar indiferente. Uma mulher que está a recuperar das dores de um divórcio que teve de impor, apenas 1 mês depois de se ter casado. Como se não bastasse, ainda há o pormenor do motivo ser por maus tratos… Como se recupera disto? Mas não fica por aqui. Antes já houvera uma história de Parkinson com a mãe…com tudo o que isso envolve… e naturalmente tantas dores emocionais que acabam por se transformar em físicas. Como está hoje o coração desta mulher?
Quem me segue sabe que sou sensível a estas histórias. Sou sensível à vida. Às nossas mães. À nossa saúde. Aos momentos de tristeza que a vida nos entrega de quando em vez…tanto quanto adoro um sorriso e um momento de celebração.
Esta história fez soar um sino para vos escrever estas palavras. Já por várias vezes tinha sentido que um dia o iria fazer. Chegou hoje o momento. E o que é este texto? Um grito de sensibilização para a importância do amor. Essa palavra que tantos associam a uma relação entre um homem e uma mulher ou entre pessoas do mesmo sexo, não importa o género. Mas que vai tanto para lá disso e nos transporta para um sentimento tão maior e tão mais abrangente.
O amor está em tantas coisas. E em tão pequenas, tantas vezes…amar alguém é muito mais do que dois corpos se envolverem. É tantas vezes apenas a nossa presença. O nosso sorriso. A nossa mão… Tenho vivido momentos difíceis nos últimos tempos. Momentos que somente a minha capacidade enorme de amar os consegue superar. Somente a minha maturidade me permitiu aceitar.
A minha vida virou-se ao contrário
Já lá vai mais de 1 mês em que a minha vida se virou ao contrário. Inesperadamente. Quero deixar para mim e comigo a identidade da pessoa. Partilho apenas que é um amigo que há 30 anos não via e que, de repente, o reencontro numa cama de uma unidade de cuidados continuados. Tem 50 anos. Está doente há 2. Foi-lhe diagnosticada uma doença neurodegenerativa que, aos poucos, lhe foi roubando a vida.
Roubou-lhe tudo o que gostava. Roubou-lhe a independência. Roubou-lhe os sucessos profissionais. Roubou-lhe o andar. A fala. Roubou-lhe a outra parte da vida que faltava viver. Roubou-lhe os sonhos. Os planos. Os projetos… Ainda assim não lhe roubou as emoções. O que mais nos alegra e o que mais nos faz doer. A ele. A nós.
E é isso que nos faz perguntar: e se fossemos nós? E se fosse eu que estivesse deitada naquela cama? E se fosse a mim que aquele exame tivesse sido feito e me visse privada de tudo o que mais amo, assim, num abrir e piscar de olhos? E se fosse a si que isto acontecesse?!
De facto não acontece só aos outros. Pode acontecer a nós. E é tão fácil. Tão estupidamente fácil…
Tive necessidade de viver estas últimas semanas sozinha e com os que me são mais próximos. Primeiro foi o choque. Depois a recuperação dele e a ajuda aos que de mim precisam. Inclusive ele. Fiz tudo o que estava ao meu alcance para ser útil. Estou a fazer, todos os dias. Continuarei a fazer até sentir que faz sentido e que faço a diferença. E sim, pelo meio nasceu este blog…e pelo meio tenho uma empresa para gerir, uma mãe para dar atenção, um casamento, um cão, uma casa…mas sim, entre Lisboa e a terra onde se fazem milagres, houve e haverá tempo e amor para entregar a quem pode fazer a diferença.
Peço que compreendam que quero manter a privacidade da família. E a minha também. Mas não posso deixar de partilhar convosco esta história para vos sensibilizar para o que é realmente importante na vida: o amor! Seja de quem for. Seja de que forma for.
Tenho agora vontade e necessidade de escrever para me libertar. Para dar aos que podem precisar de uma palavra de solidariedade, a minha força e inspiração. Quantas pessoas não vivem dramas e se escondem debaixo de capas de proteção para não sofrer…
Hoje senti que estava na hora de deixar aqui umas palavras. Nem que seja para vos dizer que, mesmo quem parece ter uma vida sem adversidades, na verdade pode estar por dentro cheio delas! Pode estar por dentro a encontrar respostas para perguntas que nunca deviam existir.
Estes dias que se aproximam, que podem ser de descanso para o corpo e para a mente, que sirvam para refletirmos sobre a importância das pequenas coisas. Sobre a importância de dizermos aos outros o que sentimos. A cada momento. Em todos os momentos. Para pensarmos se vale mais sermos pessoas boas, que praticam e promovem o bem, ou se valerá a pena estarmos na vida sem respeito por ninguém. Fechados nos nossos próprios objetivos. Nos nossos próprios umbigos!
Vivamos para sermos felizes. E que a felicidade passe por trazermos ao dia a dia o que verdadeiramente vale a pena. A vida é demasiado frágil e curta para não a vivermos em pleno. Como ela faz sentido para nós.
Porque vos trago estas palavras? Porque importa nos encontrarmos no meio do caos. Sermos úteis aos outros. Fazermos a diferença na vida de alguém. A mim basta-me o olhar de um velho e querido amigo, hoje sem voz, para perceber que toco o seu coração partido. O meu está a recompor-se de um choque profundo. Doloroso. Inesperado. O meu está a recompor-se aos poucos. E a aprender a aceitar o que a vida nos dá. Para que serene. Para que viva em paz…
As coisas mais importantes da vida são mesmo as mais simples. E são mesmo as mais pequenas e as que mais vezes esquecemos… Para colar o coração só há uma formula: aceitar e amar. Aceitar a realidade, por mais difícil que seja, e fazer tudo o que podemos para dar o nosso amor aos que dele precisam.
A vida é exigente demais para escolhermos despedaça-la. Colem o vosso coração e amem! Porque a única coisa que vale a pena é amar…