Por Cristina Amaro
Dos 20 aos 30.
A grande mudança. Os tempos da faculdade e de formação complementar. Do Master e da Pós Graduação. Dos cursos do Cenjor e da entrada no jornalismo. Do começo de uma carreira na publicidade, que durou pouco e que rapidamente se fez substituir pelo jornalismo especializado na área de formação: o marketing, a publicidade e a gestão de imagem. Os tempos que me viram apaixonar pelo jornalismo de revistas e onde a editora Abril, em São Paulo, teve grande influência. Os tempos que me levaram a entregar o coração. Ao amor. Ao trabalho. À revista Exame, que ainda hoje me faz sentir orgulhosa por ter pertencido à sua equipa.
A época do encontro comigo mesma, da auto-confiança e do auto-conhecimento. Das paixões e das desilusões. Do primeiro casamento e do primeiro bebé que perdi dos dois que não quiseram nascer. De ver partir o irmão que me acompanhou desde os seus dois aninhos. Cedo demais. Para mim, para nós. E da partida da única avó que conheci, a avó Emília, que se orgulhava do marido nunca lhe ter visto as roupas brancas!! – “Valha-me Deus…não sabes o que perdeste avó!”, dizia-lhe eu. Zangava-se e virava a cara perguntando se era melhor ver-se o que se via nas novelas brasileiras da época. Que não me deixava pisar uvas quando estava menstruada porque azedava o vinho. E que chamava por todos os netos antes de chegar ao nome que queria.Teria hoje mais de um século.
Uma época em que se perderam as primeiras grandes recordações de infância. Em que se perderam referências. A época de muitas coisas menos boas, mas também de muitas que ainda hoje existem na minha vida. A época que me trouxe de vez para a minha cidade Natal, onde sempre pertenci, mas que hoje me deixa saudades da aldeia, pela tamanha agitação que traz ao dia a dia. A época das viagens ao estrangeiro e do começo de uma nova vida. A época das descobertas.
Estes foram tempos em que tudo começou a ser o que eu gostava que fosse. Tempos da minha primeira casa e do meu primeiro carro. De aprender a ouvir e a respeitar a minha intuição. A época em que descobri pessoas que ainda fazem parte da minha vida. Mas também de alguns desencontros. Da substituição das noites de discotecas pelo prazer de estar em casa e pelas noites de estudo antes do sol nascer (sempre gostei de deitar cedo e levantar com as galinhas! É a minha melhor hora de criatividade). De ter pela primeira vez uma gata e de a ver ser infeliz a viver num apartamento e que, por isso, mais tarde, foi viver para casa dos meus pais onde esteve por longos anos. Chamava-se boneca. E era!
A época em que vi completar o ciclo de nascimento dos 4 sobrinhos. Em que dei aulas a professores na experiência de formadora de informática. A década que mais me marcou, que mais me fez olhar para dentro. Em que perdi o medo e me aventurei. Em que optei por trocar um emprego certo por um incerto. O momento em que decidi criar o meu próprio caminho. O menos percorrido.