Cristina Amaro
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Cheguei aos 50 | Dos 0 aos 10

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A vida

Cheguei aos 50 | Dos 0 aos 10

Cheguei aos 50

Por Cristina Amaro

Hoje é um dia especial. Dia de iniciar a segunda parte do meu (quem sabe!) século de vida. A entrada na “envelhescência”, como diz o meu amigo Carlos Coelho. O dia que me permite dizer que tenho uma mão cheia de histórias para contar. De experiências e aprendizagens de 5 décadas para partilhar. De recordações que fazem de mim quem hoje sou. Uma pessoa de que me orgulho muito. Uma mulher de quem gosto. Uma profissional que respeito. Uma menina que nunca deixou de o ser mas que agora chega aos 50!

Nem todos vocês conhecem a minha história de vida. Mas aposto que alguns pensam que sou jornalista da SIC Notícias porque há muito me acompanham enquanto apresentadora do Imagens de Marca. Desafiada pela minha equipa, que conhece um pouco mais de mim, decidi ir partilhando algumas histórias que talvez não conheçam.

Faço-o porque gosto de inspirar outras pessoas, porque me orgulho muito do meu percurso e porque posso, com o meu modesto contributo, ajudar alguém a acreditar mais em si.

Foi esse o meu principal caminho até hoje: a construção da minha autoconfiança. Explica-se e entende-se pela minha história de vida. Agora contada em 5 décadas, uma por dia ao longo desta semana. 5 mini episódios que resumirei para não fazer um livro com este tema. Quem sabe um dia me apeteça escrevê-lo. Com detalhe… Para já vou dizer-vos um pouco mais sobre quem sou na semana em que completo 50 anos de vida.

Recuemos, então, a 21 de outubro de 1969 – dia de calor, lembra a mãe. Dia de luta para sobreviver a um parto delicado que me levou a ficar umas largas horas na incubadora da Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa. Dia em que “roubei” a mãe ao mano mais novo. Que o pôs a chorar de tal forma que ainda hoje a mamã o recorda. Dia em que nasci. E também o dia em que Willy Brandt era eleito Chanceler da República Federal Alemã. O político social-democrata que contribuiu para a aproximação ao bloco de Leste Comunista e que viria a ganhar o Prémio Nobel da Paz 2 anos depois.

1969. O ano que nos permite assinalar meio século de vida e de efemérides. Ano em que se lutava contra a guerra do Vietname e em que os Beatles deixaram marca com o seu último concerto.

1969. O ano em que começa a minha história…

Cheguei aos 50

Dos 0 aos 10. Os tempos da infância. Das brincadeiras entre 4 irmãos, em que eu era a única menina, entre os primos e os amigos. “Grupeta” que dava trabalho à mãe a fazer lanches e a controlar os exageros das subidas às árvores e das correrias que esmorravam os joelhos. Tempos dos palcos e das cordas agarradas a pedaços de cana para fazer de microfone com o qual cantava de corpo e alma como se estivesse no festival da canção dos mais pequenos (mas que na época não havia). Tempos de cantar nos palcos da aldeia onde morava, perto do Cartaxo, em que encantava plateias com os meus 4 aninhos destemidos de cantorias sem ensaio. Tempos do teatro, das danças e de todas as artes que me apaixonaram durante tantos anos… Tempos em que o tempo não tinha tempo, em que as noites de verão eram isso mesmo e me juntava aos meninos mais velhos para ir para a escola com companhia.

Cheguei aos 50 | Dos 0 aos 10

Tempos do primeiro amor nos primeiros anos. De ler na segunda classe para os meninos da quarta. De chorar a fazer contas nos cadernos quadriculados que odiava (ainda hoje não morro de amores por esse lado da história), de imaginar que era professora das minhas colegas e lhes explicava como se devia fazer uma boa cópia. Tempos de me orgulhar de não dar erros, de aprender a dizer bom dia a toda a gente. Tempos de ultrapassar aos 2 anos de vida uma queimadura feia com água a ferver como resultado da falta de obediência, e que ainda hoje se nota no meu pé direito. E também no baú das memórias que preferia não ter de infância…

Tempos de andar no baloiço feito de telha. De correr pelos campos, de inventar brincadeiras por haver poucos brinquedos e pouco dinheiro para os comprar. Tempos de me apaixonar por todos os cães que passaram pela minha vida. Tempos de irmos 6 num carro para o Algarve, com os pais na frente e os filhos voltados para trás a dizer adeus a todos com quem se cruzavam (e a incentivar as ultrapassagens para podermos dizer que os “papávamos todos”, usando as palavras e os gestos como se tivéssemos um talher nas mãos). Tempos de aprender a nadar nas praias do sotavento algarvio. De apanhar amêndoas com os tios do Algarve. De brincar na praia de manhã à noite, com direito a saída da praia no pico do calor para fazer piqueniques nas melhores sombras do sul.

Cheguei aos 50 | Dos 0 aos 10

Tempos do jardim zoológico e do Compal de alperce em latinhas. Das batatas fritas Pala-Pala e das pastilhas Gorila. Tempos de ver a mãe chorar quando não estava feliz e de tantas vezes pensar que a perdia por cansaço de uma vida cheia de contrariedades. Tempos de crescer mais depressa e de me tornar mais forte. Tempos de algumas carências materiais. Tempos de lutar pela vida porque foi assim que a minha vida começou (com um cordão umbilical enrolado no pescoço e um parto sem assistência que me privou do primeiro colo ser o da minha mãe). Tempos de viver intensamente. Em plena felicidade e em plena necessidade. Tempos em que o amor dos nossos fazem de nós quem somos hoje. Tempos em que as vivências estavam para lá da imagem e em que as fotografias se tiravam nos batizados e pouco mais (por isso tenho tão poucas…nunca fui batizada apesar de hoje ser muito crente).

Cheguei aos 50

Dos 0 aos 10. Anos em que a minha vida foi um mar de criatividade. Uma infância feliz que antecede uma adolescência cheia de dificuldades… que poderão ler amanhã.

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