Por vezes damos de caras com a coisa certa apenas quando fazemos a coisa errada. Da mesma forma que as palavras encontram sempre o seu lugar exato num texto, a vida tende a nos surpreender até nas esquinas mais inóspitas e sombrias. Procuramos ferozmente o grande esquecendo o minúsculo que nos surge por entre as linhas da vida. É certo que ambicionamos a grandeza, e está tudo bem com isso, mas adulteramos o simples, o pequeno e as amostras de luz que a vida nos dá.
Durante esta fase em que tudo é tão temporário e impermanente, busco, tal qual muitos outros, manter o equilíbrio, a sanidade e não cair no esquecimento do que verdadeiramente se está a passar. Sofro por antecipação, cancelo planos, invento histórias em que a cura aparece tão depressa quanto a minha vida foi alterada.
Mas também equaciono, na tentativa de também eu me salvar, por meio de questões tão íntimas, mal-amanhadas por falta de clareza e, possivelmente, sem capacidade de resposta. A vida não está a acabar, nem o céu, nem a terra, nem o universo, nem ninguém. Porém, há uma certa tendência para nos protegermos como que toda a vida estivesse suspensa por um fio.
A montanha não é o seu topo. A montanha é a composição de toda a matéria que a constitui. O topo é apenas o ponto mais alto que tem. O restante reside na base e que inclui toda a vida e não-vida que nela habita.
Apontamos muitas vezes o nosso olhar apenas para cima. É onde pretendemos chegar. Todavia, teimamos em não honrar com a mesma intensidade a base e as pequenas coisas.
Uma das coisas que aprendi ao longo da minha vida é que tudo conta. Os pequenos e os grandes. Os altos e os baixos. A força e a fraqueza. A queda e a ascensão. E que a vida, tão sábia que é, nos presenteia com o pequeno da mesma forma que nos incentiva com o gigante.
Um ponto de luz, por mais pequeno que seja, tem a capacidade de iluminar toda a escuridão.
A aprendizagem que estamos a adquirir com o que estamos a passar de momento dita-nos em quem nos estamos a tornar. Talvez precisemos de reparar mais nas pequenas amostras de luz que a vida nos está a dar. É tempo de encararmos o simples. De transformar o complexo no acessível e ver, por mais empenho que isso signifique, a beleza única das pequenas coisas.
Um dos livros que mais admiro e que cumpre bem o seu propósito nesta questão da simplicidade é “A Arte da Simplicidade” de Dominique Loreau. Uma obra inspirada nos filósofos orientais e que assenta no princípio de que “menos é mais”.
Procure menos, encontre mais.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas Leituras,
César Ferreira
Mentor de Autor, Mentor para a Aprendizagem e Biblioterapeuta