Cristina Amaro
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As mulheres são especiais? Ou a liderança não tem sexo?

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As mulheres são especiais? Ou a liderança não tem sexo?

As mulheres são especiais? Ou a liderança não tem sexo?

Por Cristina Amaro

Confesso que é tema que não tenho fechado na minha cabeça. Mas também confesso que não invisto muito tempo a tentar perceber se a liderança feminina é melhor ou pior do que a masculina. Para mim, importa sim a competência, seja ela de uma mulher ou de um homem. No entanto, reconheço nas mulheres algumas características que fazem de nós, talvez, líderes mais sensíveis, mais emocionais, com maior compaixão e, muitas vezes, até capacidade de comunicar. 

Enquanto CEO da The Empower Brands House, nunca contratei por género. Optei sempre pela experiência, know-how e, sempre que possível, pela atitude. Mas o tema da liderança feminina desperta-me muita curiosidade. Mais do que não seja porque gosto de ouvir o que outras pessoas têm para dizer, em especial, admito, mulheres que gerem equipas e que me podem inspirar com as suas práticas. 

Por isso, este ano optei pela Grande Conferência da Liderança no Feminino, promovida pela Executiva. E não me arrependi. Não consegui ficar o dia inteiro (por compromissos na empresa), mas trouxe da manhã de reflexões ideias para novos negócios, novas formas de comunicar e ensinamentos que ficam para a vida. E, sobretudo, que valem ouro!

Eu fui apenas uma das 500 pessoas que trouxe para casa a frase: “Liderança feminina é partilhar, aproximar, inspirar”, gravada no saco de pano que nos entregaram no check in. A Culturgest encheu o auditório e, desta vez, não estavam só mulheres na plateia. Nem no palco.

Foi precisamente um homem que abriu a manhã para nos falar do mundo em 2030. Javier Diaz-Giménez, professor da IESE Business School, Universidade de Navarra, fez a plateia refletir sobre as mudanças aceleradas a que assistimos no mundo de hoje. Das novas geografias políticas-económicas-sociais que o mundo está a ver nascer e que vão mudar a forma como e onde se fazem os negócios (novos mercados, novas culturas, novos hábitos…), ao papel da tecnologia, digitalização e inteligência artificial, passando pela importância da cooperação em vez da competição (eu acrescentaria a coopetição), da urgência da sustentabilidade e na demografia que vai mudar o perfil dos mercados. 

Deu que pensar e deu para também aceitar que muitas vezes o melhor é não pensar demais porque há situações que não dependem de nós e podem, na verdade, – e como nunca nos passou pela cabeça – mudar o mundo de um dia para o outro. Como é o caso da guerra na Ucrânia. 

O mundo aos olhos de Javier não é muito diferente do meu: isto anda tudo depressa demais. 

Trouxe, por isso, desta manhã também as palavras da psicóloga Ana Bispo Ramires e a reflexão certa sobre o lado perverso do multitasking. O melhor é mesmo não o praticar a não ser que estejamos à procura da forma correta de nos desfocarmos. 

E, sabendo que a mudança vai ser cada vez mais rápida, é importante que nos protejamos dos excessos que podem levar ao burnout. Estamos nós preparados para esta velocidade louca? Não! E nunca vamos estar! Por isso, o melhor é perder o medo, dar o nosso melhor, acreditar que somos capazes, embora muito conscientes dos nossos limites. E ir em frente

Dizia Isabel Canha, fundadora da Executiva, que as mulheres que assistem a conferências sobre liderança no feminino têm mais tendência para serem aumentadas e para chegarem a lugares de chefia. E acredito que naquela sala lá estivessem muitas que o ambicionam. E ainda bem. Porque todos devemos lutar pelo que desejamos. 

Também importa saber que – e isso falou-se em sala de almoço – a liderança não é fácil. É um processo solitário. É uma entrega total. É uma responsabilidade colossal. É, na verdade, muito trabalho. Todos os dias. 

Chegar ao topo é possível e a prova está nos diversos testemunhos que foram partilhados durante o dia por mulheres que lideram organizações, integram Conselhos de Administração e gerem equipas com centenas de pessoas. E foi levada a palco a ideia de que a liderança faz-se por todos nós, mesmo quando não temos um papel de chefia. E faz-se mesmo. Porque todos temos um papel de influência sobre os outros. 

Gosto de assistir a estas conferências porque elas dão espaço para parar, pensar, refletir. E nós precisamos de parar para refletir. Não só para pensar estratégia de futuro – o que não se consegue entre reuniões que ocupam os nossos dias -, como também para olhar para o nosso dia e perceber o que correu bem e menos bem e como corrigir para que amanhã seja melhor.

Partilhava a caminho do almoço que o nosso grande inimigo é a perfeição. E as mulheres têm muito isso: querer fazer tudo perfeitinho nos seus inúmeros papeis diários que só com uma boa base de apoio nos permite evitar um espalhanço ao comprido. Seja numa relação a dois, seja com uma empregada na nossa casa que nos liberte de tudo o que a casa nos obriga (entre roupas, compras, limpezas, gestão de tudo e mais um par de botas como acontece no dia a dia…) e que a isso ainda se soma a família, filhos, animais de estimação e, sem esquecer, a nossa própria vida. O amor próprio. O cuidar de nós mesmas. Diz-lhe alguma coisa este tópico, certo? Espero que sim. 

É talvez “o” tópico. Onde ficamos nós no meio deste mundo louco que não nos dá tempo para refletir e nos pressiona para fazer tudo bem? Eu respondo por mim: ficamos com a consciência que somos humanos. Com a tranquilidade de nos deixarmos errar sem nos condenar. Com a humildade que não sabermos tudo. 

Liderança é empatia, dizia Fátima Carioca, da AESE Business School. O líder de futuro tem, por isso, de ser empático, de chegar ao outro, de criar pontes. E isto – refere e eu subscrevo – as mulheres fazem-no bem. 

Então o que é o líder do futuro? 

É ser perito em pessoas. Saber tocar-lhes e ter consciência da forma como a nossa vida toca a vida do outro. 

É ser techy. Posso não saber programar, mas tenho de saber quais são as vantagens da tecnologia. 

É ter inteligência adaptativa. Ser flexível, saber adaptar-se ao que a vida nos dá. Tal como um rio se adapta ao caminho que faz da montanha ao mar. 

É ter capacidade de aprender com o que vemos e registar essa aprendizagem para não repetir o erro. 

É ser humilde. Querer aprender com o outro. Ouvir a equipa e assumir que não sabe fazer tudo mas está disponível para aprender com ele. 

É ser uma pessoa curiosa.

É ter energia para cuidar de si respeitando a idade que tem.

É ser integro, corajoso e grato. 

Saber que o gesto de dar é o mesmo de receber.

Leia aqui mais sobre liderança.

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