Cristina Amaro
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“O CAMINHO não trilhado”

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A vida

“O CAMINHO não trilhado”

Foi em 1989 que tive o primeiro contacto com o poema “The Road Not Taken”, de Robert Frost. Se há algo de que me lembro é de estar sentado na cadeira do cinema a ver “O Clube dos Poetas Mortos” e, na cena do pátio (mais conhecida por “conformity walking”), ouvir Mr. Keating citar os últimos versos deste poema que mudaria a minha perspetiva para sempre: “Two roads diverged in a wood, and I —/ I took the one less traveled by,/ And that has made all the difference.

Por vezes, pergunto a mim próprio o que me faz escolher caminhos mais desafiantes do que outros. Sempre fui das pessoas a quem chamavam “diferente e esquisito”. Expressões como “tens de ser diferente de toda a gente”, “só fazes isso porque és contra tudo” ou “nunca estás satisfeito” acompanharam-me durante toda a minha infância. Julgo que a resiliência que possuo hoje em dia tem que ver com o facto de, independentemente do que me diziam, seguir em frente com as minhas ideias.

Sempre fui um bom amante do desconhecido. Lembro-me de passar largos momentos deitado no terraço da minha casa a olhar o céu, na expectativa de ver algo que ninguém ainda tivesse presenciado. Fascinava-me a profundidade do céu e tudo o que poderia aparecer sem aviso prévio, tal como uma estrela cadente ou mesmo um ovni.

O meu imaginário era habitado não por reis ou dragões, mas por uma espécie de luz plástica que ia criando imagens tão absurdas quanto belas. Esta era, para mim, uma forma de liberdade e de conhecer o que a maioria das pessoas teimava em renegar.

Teremos sempre vários caminhos por onde escolher. Uns serão aparentemente mais fáceis, outros serão uma total novidade. Uns serão apenas estradas por onde caminharemos, outros serão mestres que nos ensinarão o que de outro modo não poderia ser aprendido.

Charles Chaplin tem uma frase que simplesmente adoro e que representa bem o poder do desconhecido: “A minha fé é no desconhecido, em tudo o que não podemos compreender por meio da razão. Creio que o que está acima do nosso entendimento é apenas um facto em outras dimensões e que no reino do desconhecido há uma infinita reserva de poder.”

Todos nós estamos a um caminho de distância de qualquer coisa. Mas seja por medo ou pela cultura que nos incutem diariamente de que tudo é fácil e descartável, optamos, na maioria das vezes, por escolher o que de algum modo já conhecemos. Como pode a vida mudar se seguirmos sempre as mesmas setas? Como pode algo de novo acontecer nas nossas vidas se continuarmos a fazer tudo da mesma maneira?

Se há uma coisa que aprendi com o desconhecido é que este só o é na medida da nossa inércia e da nossa “fome” por racionalização. O que é a fé senão o acreditar em algo que não se conhece verdadeiramente?

Não é necessário mudar tudo na vida para que a vida mude. Por vezes, basta mudar de perspetiva. Seguir um caminho diferente, mesmo que o façamos com mais cautela.

Enquanto na estrada que conhecemos já sabemos que curvas nos esperam, na estrada menos percorrida não sabemos sequer se haverá curvas.

Deixo-vos aqui o poema (numa versão traduzida) de Robert Frost, para que, através das suas palavras, reflitam um pouco sobre as escolhas que fazem e sobre o desconhecido.

O Caminho Não Trilhado
Robert Frost

“Num bosque amarelo dois caminhos divergiam,
E lamentando não poder seguir os dois
E sendo apenas um viajante, segui
Um deles o mais longe que pude com o olhar
Até onde se perdia na mata;

Tomei o outro que me pareceu mais belo,
Oferecendo talvez a vantagem,
De uma relva que se podia pisar,
Embora o estado de ambos fosse o mesmo
E naquela manhã eles fossem iguais.

Ambos estavam sobre relvas
Que nenhum passo enegrecera.
Oh, guardei o primeiro para outro dia!
Mas como sabia que caminhos se sucedem a caminhos,
Duvidei que um dia voltasse.

Hei de contar isto suspirando,
Daqui a muito tempo, nalgum lugar:
Dois caminhos divergiam num bosque,

E eu segui o menos trilhado.
E isso fez toda a diferença.”

Desejo-lhe momentos inspiradores.

Boas leituras,

César Ferreira
Biblioterapeuta e reading coach

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