As coisas até podem estar a correr bem. Temos todos os recursos à nossa disposição, a oportunidade é única e responde ao que procurávamos, o universo conspira a nosso favor. Porém, e quando estamos a um simples passo de conseguir, há uma voz que nos interroga: “Quem pensas que és para conseguires isto?” E, como por um ato de magia inversa, recuamos. Permitimos que o medo se torne maior do que o nosso sonho e o que era possível é agora uma impossibilidade.
São muitas as pessoas que desistem só porque a voz do seu crítico interior tenta boicotar o processo. Mandar calar esse “eu inferior” é por vezes um dos maiores feitos que podemos realizar. Haverá sempre partes de nós que não concordarão com as nossas decisões. Parece estranho. Mas a realização de sonhos e afins traz sempre consigo uma certa irrequietude.
O que podemos aprender com essa voz?
Primeiro, a ganhar certeza acerca do que realmente queremos. Segundo, a tomar o pulso e a assumir a responsabilidade das nossas decisões. Terceiro, a aceitar que o medo é a forma que o cérebro tem de nos proteger das dores do fracasso.
É normal que por de detrás de cada conquista estejam o medo, a insegurança e a dúvida. Isto é ser humano na sua mais vasta vertente. Não é possível saborear a vitória sem travar um qualquer tipo de disputa.
A vida tem uma dinâmica própria em que todos os instantes cumprem o seu propósito. Mesmo que tentemos estabelecer um nível em que a intensidade é sempre a mesma, jamais viveremos de modo pleno sem uma certa irregularidade.
A voz interior que teima em nos amedrontar é uma dádiva. Uma prenda que recebemos, que funciona como tira-teimas e que mede o nosso nível de compromisso. Se tivermos a ousadia de a mandar calar, quando assim tiver de ser, estaremos convictos e alinhados com o que queremos; se não tivermos a coragem de agir, baixaremos os braços como sinal de desistência.
Todos temos um crítico interior que usa essa voz para se expressar. Um crítico que, independentemente de assumir muitas vezes o seu mau feitio, é também um protetor e um cuidador.
A concretização de algo faz sempre “tremer as pernas”. Quanto maior o sonho, maior o desafio. Quanto maior a imposição, maior a recompensa.
A voz interior que ouve é sua. Não vem do além nem do exterior, mas do mais profundo do seu ser. Aproveite-a para dar “corpo” e ação às suas metas.
Se há livros que sugiro, quer para escutar quer para silenciar essa voz interior e treinar a sua mente e o seu coração para a plenitude, são “Coração Aberto, Mente Limpa”, de Thubten Chodron, e “A Voz do Silêncio”, de Helena P. Blavatsky.
Confesso que “Coração Aberto, Mente Limpa” é uma das leituras mais expansivas de que alguma vez fiz (e já li centenas de livros). Um livro que nos ajuda a encontrar, por entre o ruído da nossa mente, o que é verdadeiramente importante. Contudo, e como forma de entender todas as nossas vozes, é preciso aceitarmos que durante toda a nossa vida teremos sempre como companhia o que nos faz avançar e o que nos faz desistir. A escolha será sempre nossa.
Em “A Voz do Silêncio” encontramos a plenitude e a questão poética da espiritualidade. Um livro fundamental que nos incute a vontade de parar para escutar o que vai dentro de nós.
Assim que iniciar um novo projeto ou mesmo a concretização de um sonho, saiba que todas as suas vozes interiores irão querer manifestar-se. Prepare-se para dizer não quando for necessário e dizer sim quando tiver de o fazer. Seja fiel a si mesmo.
Internamente, estaremos sempre numa espécie de batalha. É deste modo que a frequência cardíaca da existência nos mantém vivos e aptos para patamares bem mais elevados. Saber escutar é uma virtude. Seguir em frente é uma decisão.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas leituras,
César Ferreira
Biblioterapeuta e reading coach