Cristina Amaro
Está a ler

A seguir a uma MONTANHA vem outra

4
A vida

A seguir a uma MONTANHA vem outra

Chegamos ao cume da montanha. A escalada foi árdua e muitas das coisas que trouxemos perderam o seu sentido, deixando para trás um rasto que é um misto de superação e de perda. Mas este momento é nosso. Sentimo-nos no topo do mundo. Esforçámo-nos muito para cá chegar. Por breves instantes, inspiramos cada palavra e sentimento de poder que nos chega. Tudo parece certo. Sempre aguardámos por estar aqui, neste cume. Até que ao olharmos à nossa volta reparamos que existe uma montanha ainda mais alta do que aquela que agora subimos. A pulsação acelera, a insegurança volta e a satisfação de vitória é substituída pelo sopro efémero de uma nova luta que se avizinha.

Todos nós procuramos a estabilidade. A forma ideal de nos mantermos num estado em que tudo flui. Sem preocupações, sem desejos em demasia, com a normalidade vestida. Ambicionamos o equilíbrio de tal modo que investimos muito por cento da nossa vida empenhados em atingir o ponto médio da existência. Aquele ponto em que nada de extraordinário acontece, mas que também não nos dá grandes preocupações.

Ao longo da minha atividade enquanto mentor tenho encontrado pessoas que apenas desejam a regularidade. Uma vida sem dissabores em que nada falta, mas também em que nada abunda. Uma vida em que, ao se querer apenas o mediano, acaba por saber a bem pouco.

Não há mal nenhum em querer apenas o sossego e o “não me chateiem”. Contudo, muitos apenas querem a normalidade por considerarem que não têm capacidade para mais. E habituam-se a uma falsa normalidade que, mais cedo ou mais tarde, cairá. Mas quando conseguem ver mais além e sentir que afinal há mais qualquer coisa, a vida ganha um novo sentido.

Perdemos mais por almejarmos somente o satisfatório do que não desejarmos nada. Fomos “feitos” para a excelência. A questão é que isso dá muito trabalho e exige muito de nós. Não assumimos a responsabilidade de expor algo que sabemos que existe dentro. Quantos de nós, somente no silêncio da sua boca, sente que é especial?

A maioria das pessoas sente qualquer coisa interna. Contudo, só poucos é que dão o passo em frente e arriscam subir a montanha. Mesmo os que estão determinados a escalar a ingremidade dessa pensam que a vida reside apenas num cume. Num só desafio.

Nada é mais incoerente do que se entregar ao habitualismo. Se por um lado navegamos de desejo em desejo, por outro fugimos ao que implica concretizar um sonho. O desapontamento, o erro, a queda, a dor, a superação, o crescimento, são apenas modos de apreciar as montanhas que nos circundam. E cada uma destas poderá ser mais alta e desafiante do que as outras.

Assim que decidir subir a uma montanha, saiba que existe outra. Mais alta, mais difícil, mas também com uma dose mais ampla de satisfação e de paz. Todavia, há uma espécie de lei universal que se aplica a estas montanhas. Só poderá subir uma mais alta assim que tiver subido outras mais baixas e mais fáceis. A superação e a conquista são escaláveis e têm em si aprendizagens que não podem ser renegadas. 

O livro “Winston Churchill” de Martin Gilbert não é só uma biografia de uma das personalidades mais influentes da História da Humanidade. É a descrição do exemplo de alguém que, pela sua capacidade em encarar as “montanhas da vida” e a adversidade das intempéries, se submeteu à mais elevada forma de brilhantismo: o saber agir com acreditar e sabedoria nas situações mais difíceis.

Ao ler este livro aprecie as montanhas que nele constam. Encontrará, através de Churchill, a força invisível que reside já dentro de si. Poderá não ter de tomar decisões tão árduas como as dele, mas certamente que tudo o que decidir e fazer fará de si alguém que resiste à normalidade para encontrar a excelência.

Desejo-lhe momentos inspiradores.

Boas Leituras,

César Ferreira
Biblioterapeuta e Reading Coach

Deixe um comentário

Follow @ Instagram