Mesmo que tenhamos a certeza de que, quando abrimos uma porta, vamos encontrar qualquer coisa, há sempre algo que pode fugir ao nosso controlo. Afinal, o que está do outro lado à nossa espera pode ser tudo, até mesmo o que não queremos.
A certeza de que as portas se abrem para chegarmos a determinado local faz-me pensar que, da mesma forma que há portas que deveriam estar sempre abertas, outras deveriam permanecer fechadas. E, hoje, quero falar-lhe da porta que deve manter fechada.
Por onde quer que andemos, somos acompanhados pelo abrir e fechar de portas. Portas externas, mas também portas internas. A sincronicidade entre ambas acaba por representar a qualidade de vida que temos. Curioso, não é?
Quando amamos verdadeiramente alguém, ambicionamos que esteja sempre presente. Que em cada porta que abramos, essa pessoa esteja à nossa espera. Viciamo-nos numa espécie de contacto que faz parceria entre o que sentimos e o que encontramos.
Mas há portas que nos fazem tremer quando são abertas. Pois no noutro lado podem estar medos, fracassos, uma situação não resolvida, um agressor, uma má notícia.
Acredito que cada um de nós tem funções de porteiro de valor acrescentado com a competência de abrir a porta certa no momento certo.
Também existem portas invisíveis. Aquelas que imaginamos que nos levarão a lugares incríveis de beleza, felicidade e paz.
Estamos a um passo de qualquer coisa que desejamos ardentemente. Mas demoramos a abrir certas portas, porque a nossa insegurança se torna maior do que aquilo que ambicionamos. Por vezes, é preciso coragem, motivação e audácia para não ficarmos apenas com a mão no puxador da porta. Rodar uma maçaneta é, na verdade, um dos maiores atos de superação pessoal que conheço.
Há portas que devemos manter fechadas, não para evitarmos o confronto ou o desgosto, mas para fecharmos ciclos que têm de ser encerrados. O facto de não abrirmos uma porta que sabemos que nos dará acesso a uma má notícia não fará a má notícia desaparecer.
É importante estarmos preparados para abrir certas portas. Para isso, e para que o mundo não acabe no preciso momento em que estamos prestes a aprender algo acerca de nós próprios, devemos escutar o que nos diz o coração. O coração é a maior das portas.
Salvo raras exceções, a maioria de nós sabe o que está do outro lado. Aquilo que alimentamos todos os dias é o que nos aguarda na sala a seguir. Enganamo-nos vezes sem conta e fingimos que nos surpreendemos com o que encontramos. É esta ausência de honestidade e amor-próprio que nos trava, não a porta.
A porta que deve manter fechada não é a porta que lhe trará o falhanço, mas a porta que evita que lide com o falhanço. Se há porta que jamais deve abrir é a que lhe tira a superação e o preço a pagar pela liberdade que ambiciona. Sim, tudo tem um preço. Mas não é por isto que a vida perde o seu significado e o seu brilho.
Já imaginou se todas as portas estivessem abertas? Como seria a sua vida? Em que ponto estaria?
Quando uma porta se abre, outra fecha-se. Se abrir a da alegria, a da tristeza fecha-se. Se abrir a da raiva, a da tranquilidade fecha-se. Quem roda a maçaneta é você. Pode não ser fácil, mas também não é impossível.
Se há livros que me ajudaram a fechar e a abrir portas foram “O Pássaro da Alma”, de Michal Snunit, e “Chega Aonde Quiseres: 9 Atitudes para Criares a Vida que Desejas”, de Sónia Ribeiro.
O primeiro livro, direcionado para crianças e adultos, ensina-nos a abrir e a fechar as gavetas da alma. “Que gavetas abro em determinadas situações?”; “Como fechar as gavetas que não me interessam?” Estas são apenas algumas das questões aqui abordadas.
O livro de Sónia Ribeiro é uma leitura de inspiração e para a ação através de exercícios que certamente o ajudarão a abrir as portas certas para que a sua vida tenha sentido, significado e concretização.
Antes de abrir qualquer porta, respire fundo. Este mero ato de consciência dar-lhe-á algo valioso: a clareza de que não se enganou no número da porta. De que está perante um momento que, embora possa ser simples, poderá determinar a sua vida para sempre.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas leituras,
César Ferreira
Biblioterapeuta e reading coach