No dia 23 de abril comemorou-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. Um marco que reconhece o papel dos livros e dos seus autores na nossa vida. Segundo a APEL (Associação Portuguesa de Editores e Livreiros) os portuguese compram, em média, 1,3 livros por ano (dados de 2017). Porém, não fazemos a menor ideia se os leem ou não. Na verdade, e de acordo com dados do mesmo ano, apenas 29,9% dos portugueses lê entre 3 a 5 livros por ano.
Tem-se verificado, por parte de editores, bibliotecas, livrarias e mediadores de leitura, um enorme esforço para promover a leitura e os novos autores. Nunca se teve acesso a tanto conhecimento de forma tão rápida e a baixo-custo. Mas porque é que continuamos a comprar tanto e a ler tão pouco?
Há um conjunto infindável de vantagens em ler um livro. E talvez seja demasiado redutor afirmar que qualquer uma é mais válida do que a outra. Na verdade, o que um livro pode fazer por nós depende do que queremos que aconteça em nós. Dentro e fora.
No ato de leitura são criadas pontes que unem, em primeira e última instância, pessoas. O livro é somente o veículo de comunicação entre ambas. Um registo que expressa uma mensagem e uma transformação em potência.
Uma das coisas que mais me fascina na leitura é que posso aceder às mentes mais brilhantes sem sair do local onde estou. É-me dada a oportunidade de obter perspetivas tão singulares e únicas que nem em várias vidas conseguiria alcançar. Mesmo que o autor esteja longe ou já tenha morrido continuamos a ter acesso ao seu mundo e ao seu conhecimento.
De todas as vantagens que temos em ler bons livros, aquela que mais mexe comigo tem que ver com o que acontece dentro de mim. Dos processos que me indicam novas alternativas para problemas que tenho, quando há algo que é internamente ativado e me faz ver uma situação de forma diferente, quando encontro novas perguntas que contribuirão para melhorar a minha qualidade de vida.
A leitura é um processo íntimo de sociabilização, na medida em que tudo o que acontece dentro acaba por se expressar fora. Vivemos de acordo com o conhecimento que temos e do que fazemos de efetivo com esse conhecimento. Se há algo que nos acompanha durante toda a nossa vida é a nossa habilidade em gerir e aplicar conhecimento. Conhece alguma coisa que não tenha na sua base informação e conhecimento?
Quando oiço dizer que as pessoas leem pouco, sinceramente não fico admirado. Ainda estamos na fase de levar livros a pessoas e não pessoas a livros. É importante saber-se que há livros para tudo. Mas é ainda mais importante trabalhar primeiro as pessoas para que depois cheguem à leitura. Não basta afirmar que ler é essencial. É preciso que as pessoas sintam que é essencial. E isto só se vê quando compreendemos cada necessidade na sua origem e não no seu efeito.
Quando lemos celebramos a vida. Tudo é possível “pelo menos” durante umas páginas. E às vezes isto é suficiente para que uma vida mude.
Mário Quintana afirmava que “os livros não mudam o mundo. Quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Ler é um ato de humanização, de expansão e de habilitação. Ler não é só necessário. Ler é equipar-se com o conhecimento ideal para se manter vivo.
Enquanto biblioterapeuta já ajudei centenas de pessoas a mudar as suas vidas para melhor. Nunca me faltou conhecimento para fazer o meu trabalho. Há livros para todas as situações e para todos os tipos de leitor. Há sempre uma porta que ajuda a chegarmos a um lugar melhor.
Partilho consigo um dos livros que reflete isto mesmo. Trata-se do livro “Remédios Literários” de Ella Berthoud e Susan Elderkin. Já tive o prazer de trocar experiências e trabalhar diretamente com as autoras que, tal como eu, são biblioterapeutas.
Muitas pessoas duvidam que os livros possam curar. Contudo, o cirurgião que segura o bisturi só o é porque adquiriu conhecimento também através dos livros.
Se soubesse que a resolução para um problema que tem estava a páginas de distância, não investiria na leitura desse livro?
Este livro tem sugestões de leitura para diversos “males”. Não é que todos os livros tenham o mesmo poder sobre todas as pessoas. Mas a questão é que algures na biblioteca do mundo existe um livro que o pode ajudar no que mais precisar. E isto faz toda a diferença.
Desejo-lhe momentos inspiradores.
Boas Leituras,
César Ferreira
Biblioterapeuta e Reading Coach