Estamos numa era e num tempo em que nunca se falou tanto de Mindfulness, de Yoga, de meditação, de retiros.
A palavra Mindfulness tornou-se praticamente num chavão, uma palavra de moda, em que, muitas vezes, nem se sabe exatamente o que significa. Que nada mais é do que estar presente e consciente de todas as partes do corpo e com atenção plena à respiração.
Nunca houve tanta comunicação em volta do conceito do Mindfulness, mas sempre de uma maneira superficial e/ou errónea. A verdadeira questão é se profundamente este conceito é entendido e vivenciado ou se é apenas mais uma moda, uma vaga, uma nova forma de atrair negócio, de ter seguidores e se sentir importante.
Mindfulness é uma técnica de meditação. Há várias escolas com diferentes técnicas e objetivos, mas não é de todo algo para alimentar o egocentrismo e fazer-nos sentir modernos(as) e importantes.
A meditação verdadeira, na qual está incluído o Mindfulness, trabalha exatamente a presença no momento, através da observação e foco na nossa respiração. Através de prática contínua e persistente, estamos a trabalhar a nossa mente para o foco no aqui e agora, no que se passa connosco em cada momento, cada minuto, cada segundo. O que cada situação, ao ser observada plenamente, nos provoca em termos físicos, emocionais e mentais. O que cada momento me permite apreciar, sentir, pensar. O que me permite não estar sempre a divagar com a mente, tanto no passado como no futuro, que me acarreta ou estados depressivos ou estados de ansiedade.
É essa consciência plena que nos permite não viver em piloto automático e reagir no impulso do momento através de palavras ou ações.
Nunca se organizaram tantos workshops, retiros, aulas de Mindfulness, Yoga e outras disciplinas. Ao ponto de perderem a sua essência e de serem vendidas como experiências, tais como andar de bicicleta, caminhar, comer, entre outras. Quando o mercado chega a este ponto mostra-nos que existe algo de profundamente estranho em tudo isto.
Simultaneamente, nunca se viu tanta gente dependente dos telemóveis, das redes sociais, de estar permanentemente a postar as coisas mais banais da vida, que deveriam ser vividas com presença e não como fotos para o mundo apreciar ou criticar. Nunca se viu tanta gente de auriculares, quando anda, corre, passeia o cão. Tudo isto leva-nos a não “estar presente”, nem no que se faz nem no que se ouve. Não sentimos a respiração, o ritmo cardíaco. Não estamos presente no nosso corpo, pois é uma app que nos informa do ritmo cardíaco e do ritmo respiratório. Não vemos nada do que nos rodeia, não interagimos com ninguém, nem com simples “olá” ou “bom dia”. A presença, o estado de Mindfulness, não existe de verdade. Não se está presente em nada nem em nenhum momento.
Certamente que já assistiu a situações em que temos mesas de famílias em que cada um está agarrado ao seu telefone ou tablet, em que a comunicação verbal, sensorial e visual não existe e em que tudo o que se passa em redor não tem qualquer importância. É como se a realidade física não existisse. Apenas a virtual conta. Nestes casos nada nem ninguém à volta é importante, pois não há sequer presença nem disponibilidade interna para observar – nem os outros nem a própria natureza, pois a observação e presença pessoal não existem.
Isto tudo para lhe dizer que as aulas e cursos de Mindfulness não existem só para se dizer que se está a aprender e que se faz meditação. Ensinam-nos a que na vida quotidiana, em cada momento, estejamos presentes em nós e no que nos rodeia. Ensina-nos a não tirar tantas fotos mas a que tenhamos a capacidade e presença de fotografar interiormente o que nos rodeia e o que sentimos em cada situação, cada momento. Que é “só” único e efémero.
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